quarta-feira, 11 de junho de 2014

Encerramento de grande parte das maternidades e afins...

Há dias um amigo mostrou-me uma notícia no jornal que me deixou profundamente indignada. O governo emitiu uma Portaria no passado 10 de Abril (a Portaria n.º82/2014), supostamente para reorganizar as valências dos vários hospitais. Li aliás na própria Portaria: "A necessidade de garantir a obtenção de resultados em saúde exige uma qualificação do parque hospitalar e o seu planeamento estratégico". Nem comento esta dos resultados, é tudo treta para retirar mais serviços de saúde às populações, segundo a Portaria, até 15 de Dezembro de 2015.

Uma grande parte dos Hospitais passa a pertencer ao grupo I, ou seja ao grupo que deixa de ter obstetrícia (maternidade). Querem assim saber quais as maternidades que o governo pretende encerrar? Aqui vai:

- Viana do Castelo, Guimarães, Barcelos, Famalicão, Bragança, Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Portalegre, Beja, Santiago do Cacém, Setúbal, Barreiro, Amadora/Sintra, Vila Franca de Xira, Santarém, Abrantes, Caldas da Rainha, Leiria, Figueira da Foz, Aveiro, Santa Maria da Feira, Matosinhos, Póvoa do Varzim e Penafiel.

À parte de disto, as especialidades de endocrinologia e estomatologia são eliminadas da totalidade de hospitais públicos.  Falei das maternidades, mas há ainda uma série de serviços que são extintos de alguns hospitais. E, agora de acordo com a notícia no jornal, há unidades hospitalares que desaparecem de todo (o Instituto Oftalmológico Dr. Gama Pinto e os hospitais de Anadia, Cantanhede e Ovar).

No meu caso resido no distrito de Santarém e já reparei que todo o distrito fica sem uma única maternidade. As 3 mais próximas da minha área de residência (Lisboa, Coimbra ou Évora), ficam todas a quase 150 km de distância...

Sendo este um blogue dedicado ao estudo da "felicidade", não poderia deixar de chamar a atenção para estes disparates que têm sido feitos no nosso país, ou que ainda se pretendem fazer. Este governo tem tomado atitudes totalmente opostas ao que se faz nos países mais felizes do mundo. E só para meditar um pouco, apesar de falar em linhas genéricas...

- Há falta de apoio às empresas para que estas se possam tornar mais competitivas (por ex. benefícios fiscais - não falo de créditos e afins). Precisamos de uma economia mais forte, mais competitiva e com mais qualidade. Se não há empresas suficientes, também não há emprego;

- A fuga de cérebros para o estrangeiro é outro ponto negativo. Faz-me lembrar a expulsão dos Judeus, que noutros tempos eram o motor da economia portuguesa. Depois da sua expulsão entrámos numa crise e tanto. E agora, as pessoas mais qualificadas, acabam por ajudar no desenvolvimento... mas de outros países;

- Os que por cá ficam, deixam de acreditar na educação. Por falta de dinheiro ou por sentirem que não vale a pena, deixam de prosseguir estudos. Num exemplo concreto, quando entrei para a minha licenciatura, no tempo em que muitos jovens tinham esperança na escola, a média do último aluno a ser admitido era 16... hoje em dia é 10! Há que lembrar que a ascensão económica de alguns países (a Finlândia por ex.) está associada a uma forte aposta na educação. À parte disso, no nosso país, deveriam ser incentivadas desde cedo, áreas que podem favorecer a economia. A verdade é que o país carece de técnicos superiores em determinados sectores, mas não há interesse por parte dos jovens em seguir esses cursos. E, desculpem a sinceridade, mas no meu trabalho pelo menos, é gritante a diferença em termos de bom desempenho/interesse entre quem faz formação ao longo da vida e/ou frequentou uma licenciatura e em quem não o faz. A verdade é que apesar das elevadas taxas desemprego, menor formação, influencia claramente a qualidade no trabalho. Nem toda a gente tem de ter uma licenciatura, mas a formação ao longo da vida é imprescindível;

- Outro problema na educação, passa pelos próprios professores. Como é que um profissional pode estar psicologicamente bem e render a 100%, se sente uma insegurança brutal na sua profissão? Dá a sensação de que um professor quase não pode ter família, pois frequentemente é colocado a km's de casa, isto com sorte, se não ficar desempregado...;

- A taxa de natalidade tem descido brutalmente, afinal parte dos jovens ou emigram ou estão desempregados. Como ter filhos, quando se sentem economicamente tão inseguros? Estive a reparar nos amigos que tenho no facebook. Pelo menos 25% dos mesmos estão no estrangeiro e outros tantos que optaram por ficar no país estão desempregados. Mas ainda na questão dos filhos: um país precisa de crianças para assegurar o seu futuro! Quem irá desenvolver a economia do país? Quem fará descontos para apoiar os que um dia serão mais idosos?;

- Mas o que tem sido feito em prol da Natalidade? Há desemprego. Fecham-se as maternidades e as escolas (ok... se não têm alunos, lá terá de ser). As mães têm uma licença de maternidade muito curta, comparando com as dos países mais felizes do mundo. Não têm capacidade para trabalhar em part-time, pois o dinheiro não estica. E há uma clara falta de apoio estatal em termos de creches, para não falar dos horários dos jardins-de-infância, incompatíveis com os empregos dos pais.

- Mas, já agora, para onde vão os nossos impostos? Existem países, como a Dinamarca, em que apesar de terem impostos altíssimos, são tolerados pela população, pois esta sente que os mesmos estão bem direccionados. É daí que advém um sistema de saúde gratuito, uma ampla variedade de serviços sociais, escolas de excelência, um apoio de qualidade para idosos… As pessoas não têm de se preocupar pois recebem incentivos desde que nascem até à velhice.  E o que acontece no nosso país? Os impostos são para pagar dívidas, ou subsídios do desemprego, do desemprego criado pelas medidas governamentais. Não seria bem melhor, se esse dinheiro servisse para apoiar a economia, assim como a educação, a saúde, etc.?;

- E por falar em saúde, os serviços estão cada vez mais distantes da população. No meu caso, por exemplo, não tenho médico de família (tal como 40% da população do meu concelho). Os poucos serviços públicos que existem estão entupidos de gente. É um stress, sequer pensar em ter de ir ao hospital ou ao médico de recurso do Centro de Saúde. Por incrível que pareça, na minha zona pago menos se for a um médico privado, do que se tiver de pagar uma taxa moderadora num hospital público. E agora a questão da maternidade... a 150 km de distância. Para que pagamos os nossos impostos?...

Pode parecer-vos estranho falar deste tema num blogue, por norma, com espírito mais positivo. Mas, como sempre disse, sou uma optimista realista. Isso significa que não ignoro o que considero errado no meu país. Por vezes é necessário mostrar a nossa indignação, para mudar alguma coisa. 

Estes e outros governos têm apostado pouco em medidas que favorecem a felicidade da população portuguesa. Presentemente, este é um país onde há pouca equidade social, que por sua vez gera «comparação social negativa», o que nos torna mais infelizes. A falta de confiança (no governo, na justiça, na segurança futura...), também gera infelicidade. A corrupção, gera  igualmente desigualdade, desconfiança e mina a economia... 

Por outro lado, acho que carecemos de uma educação que nos ensine a ser felizes, resilientes e com uma maior auto-estima. Precisamos de acreditar que o contributo de cada um de nós é valioso para melhorar o país que temos. Precisamos de elevar a nossa auto-estima e contagiar os que estão à nossa volta (porque tanto a felicidade, como a infelicidade são contagiosas). Precisamos de falar do que funciona menos bem, para cada um de nós, ajudar a melhorar essas situações. E precisamos de falar do que temos de bom, para termos fé e esperança no futuro!

2 comentários:

  1. Parabéns pelo seu blog! De facto, resumiu bem o absurdo em que este pais se tornou... Vamos esperar que da crise nasçam novas oportunidades...

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