segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Pensamento/Lema da semana #565


"Deus não fez tudo num só dia;
o que me faz pensar que eu possa?” 
William Shakespeare

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terça-feira, 24 de agosto de 2021

A importância de partilhar histórias de família com os filhos

 

Uma das imagens da minha infância é a de estar com a minha avó, junto da lareira, com ela a contar-me histórias. Falava-me de antigas “lendas” da nossa terra (cujas personagens incluíam sempre alguém real) e também me contava histórias da minha própria família. 

Ao lado da casa da minha avó, morava uma das minhas tias preferidas (que também era tia da minha avó). Tal como a avó I., a tia também tinha uma mão cheia de histórias para contar. Foi assim que conheci histórias fantásticas dos meus antepassados, tendo criado uma ligação inexplicável com os mesmos (mesmo que em grande parte dos casos, não os tenha conhecido).

Hoje em dia, tento transmitir essas histórias aos meus filhos. Para que não se percam no tempo e para que eles próprios possam transmiti-las às gerações seguintes.

Porque é importante transmitir as histórias de família aos mais novos? 

- Trata-se de uma atividade que te conecta com as crianças e lhes abre horizontes para além de atividades como jogos de computador, tv, etc.;

- Segundo David Niven, permite fortalecer laços entre os vários membros da família e sentir afinidade com estes;

- Fortalece o sentimento de pertença à família, trazendo um olhar positivo acerca da mesma e reforçando a sua importância na vida da criança;

- De acordo com Dr. Phil McGraw, as crianças cujas famílias valorizam a sua história e os seus rituais, são menos suscetíveis a desenvolver problemas comportamentais. Há também uma menor predominância de conflitos no Lar.

- Há uma maior probabilidade de desencadear nas crianças quando adultas, níveis elevados de interesse e preocupação pelos membros da família (segundo J. Leader);

- Por último, e muito importante, aumenta a probabilidade em 5% de os filhos serem mais felizes quando adultos (igualmente, de acordo com J. Leader). Pode parecer uma percentagem pequena, mas uma vez que só 40% da nossa felicidade depende exclusivamente de nós, 5% já é alguma coisa! 😊

5 formas de partilhares as histórias da tua família

Vou partilhar contigo, o que temos feito cá em casa:

① Conto histórias quando surgem oportunidades - quando confecionamos uma receita da avó I., quando passamos junto de um lugar especial, antes de adormecer, quando vemos fotografias, etc. (há sempre uma boa desculpa para o fazer);

Mostro-lhes objetos especiais - uma pintura feita pela tia, uma almofada que pertenceu à trisavó deles, um velho livro que pertenceu ao avô, etc.;

Repetimos rituais e tradições dos nossos antepassados - no dia 1 de Novembro ia-mos à terra “pedir os bolinhos” (pelo menos até ter chegado a pandemia, agora tentamos ser criativos e os “bolinhos” veem ter cá a casa), no Natal fazemos receitas da avó e montamos uma presépio que pertenceu à bisavó, etc.;

Pesquiso sobre a nossa árvore genealógica e vamos acrescentando histórias à família - com isto divertimo-nos com alguns nomes interessantes, percebemos que para estarmos aqui alguns tiveram de empreender longas viagens, descobrimos as ocupações de outros... é super-gira esta pesquisa (espreita este post para saberes como tudo começou e, caso tenhas interesse, como podes fazer a tua própria pesquisa);

O nosso “livro da família”
Criámos um “livro da família” - comprámos um livro artesanal em Sintra e nele registamos coisas como: episódios e curiosidades sobre a família, receitas de culinária, factos importantes, o porquê das pessoas se chamarem assim, a árvore genealógica, etc. Podemos complementá-lo com ilustrações, fotografias, postais... (espreita este post, se quiseres criar o teu próprio “livro da família”).

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Cá em casa adoramos este género de atividades. E se isto puder contribuir para a felicidade dos filhos e nos mantiver mais unidos... só por isso já vale a pena.

E por aí? Também partilham as histórias de família?

Fotos: 1.ª Free photos; 2.ª Mafalda S.

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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Pensamento/Lema da semana #564


“(...) ser um bom pai
não é um mistério nem algo que só umas poucas pessoas talentosas
conseguem ser.
Os seus princípios básicos são:
estar presente, ser afetuoso,
compreensivo e tranquilizador.
(...)
Tem de limitar-se a ser
a melhor pessoa possível.” 
David Niven citando Marcus

Foto: Pexels
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sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Book Haul - Os livros do primeiro semestre de 2020

Finalmente vou escrever sobre livros. No caso, aqueles que fizeram parte da minha vida no primeiro semestre de 2020 (logo que possa falarei dos livros mais recentes). 

Uma coisa devo dizer: como os livros nos fazem bem, mesmo nos tempos mais conturbados! Neste semestre vi-me confrontada com a doença do meu pai. Começou também a pandemia. Foram tempos bem complicados! Os livros foram o meu refúgio. O meu conforto naqueles momentos sombrios. Ou, melhor dizendo, uma espécie de terapia...

Aproveito assim para falar do que li (ou reli), dos livros que comprei ou então que me ofereceram. Espero que gostes! 😊

Psicologia e Bem-estar 

◼  "A Arte de Criar Memórias Felizes" de Meik Wiking (presidente do The Happiness Research Institute de Copenhaga e autor dos meus queridos Livro do Hygge” e do “Livro do Lykke. Os Segredos das Pessoas Mais Felizes do Mundo) - Mais um livro escrito ao estilo hygge, com que o autor já nos habituou. Com fotos lindas e conteúdo cuja leitura nos proporciona momentos de pura felicidade (ou lykke, como Meik Wiking diria na sua língua dinamarquesa).

O autor explica-nos como memorizamos as coisas (através de diversos estudos e relatos de histórias reais). Mas o principal enfoque é nas memórias felizes, uma vez que a sua evocação traz benefícios ao nosso presente (por exemplo mais saúde e felicidade). 

São-nos indicadas as melhores sugestões (baseadas na ciência), para conseguirmos criar momentos que se transformarão em memórias felizes  e que só nos farão bem hoje e no futuro - até porque, como refere o autor: “A investigação sugere que as pessoas são mais felizes quando tendem a ter uma visão positiva do passado”.


◼ "A Alma dos Lugares" de Colin Ellard (professor de psicologia especializado em neurociência cognitiva, na Universidade de Waterloo, no Canadá) - Andei em busca de um livro do género, imenso tempo. Por isso, estou eternamente grata à Andreia de “As miúdas dos livros”, que me surpreendeu com este exemplar.  

O livro aborda os efeitos da paisagem e dos ambientes que nos rodeiam nas nossas emoções, comportamentos e, inclusive, decisões. A sua influência tanto pode ser pela positiva, como pela negativa. Quantos de nós já entrámos em casas de pessoas cujo ambiente pesado e sombrio só nos faz desejar sair dali? E, pelo contrário, também já entrámos noutras (espero bem que sim!), cujo ambiente agradável e acolhedor, mais parece um refúgio relaxante. E quem não parece acalmar escutando as ondas do mar, enquanto o sol se põe?... 

Como é referido no sumário do livro, o autor “(...) explica como as nossas casas, os nossos locais de trabalho, as cidades que habitamos e, claro, a natureza nos vêm influenciando ao longo da história, e dá conta de como o cérebro e o corpo respondem de forma diferente aos espaços reais e virtuais.” Colin Ellard analisa também a influência que as tecnologias têm no meio envolvente, questionando o leitor sobre o tipo de mundo que estamos a criar. Também nos ajuda a repensar os espaços que nos rodeiam, aqueles onde podemos fazer reajustes. 

Por outro lado, é bom saber que ciências humanas como a sociologia, a psicologia, a ciência cognitiva e a neurociência, estão, cada vez mais, a ser aplicadas no mundo do design. Aliás, há justamente 10 anos atrás, escrevi um post inspirada na relação entre o design e estas ciências, intitulado de “Como a sua casa poderá contribuir para a sua felicidade?”, onde incluo 17 sugestões práticas.


◼ "A Terapia do Mar" da Dr.ª Deborah Cracknell (investigadora e especialista em psicologia ambiental, com títulos pelas Universidades de Plymouth e de Exeter. A sua área de principal interesse é a da influência da biodiversidade marinha na saúde e bem-estar humanos) - Se eu já tinha ficado fã do shinrin-yoku (terapia baseada na floresta: espreita o post e o livro sobre o tema), imagina sobre os efeitos terapêuticos do mar...

Este livro de capa dura, lindíssimo,  reúne informação sobre os benefícios do mar para a saúde e o bem-estar, com base na ciência. No fundo vem provar aquilo que o senso comum já nos dizia: que o mar nos faz (muito) bem.

No livro a autora fala-nos do seguinte:
- porque é que a Natureza é restauradora (fazendo-nos uma pequena introdução à Psicologia Ambiental);
- quais são efetivamente os benefícios terapêuticos do mar (para a saúde física, mental e emocional);
- de várias técnicas a que podemos recorrer, para potenciar os benefícios do mar;
- de estratégias para usufruir das vantagens do oceano, na nossa própria casa (sim, mesmo que vivamos a quilómetros de distância do mar);
- do impacto das atividades humanas nos habitats marinhos e do que devemos fazer para cuidar dos oceanos.

Por último, repara só nesta pequena amostra, das imagens lindíssimas que se encontram ao longo do livro. Por si só, já tão relaxantes... 🧘‍♂️


Produtividade

◼ "Não Basta Ser Bom, é Preciso Querer Ser Bom" de Paul Arden (publicitário) - Li este livro num serão (é um livro pequeno). Apesar de todas as críticas positivas acerca do mesmo, confesso que não fiquei fã. Na verdade, quando o adquiri, não me apercebi que era uma leitura mais voltada para quem trabalha em publicidade. Ainda assim, reúne boas dicas de motivação e tem ideias interessantes para alcançar a excelência profissional, mesmo noutras áreas.

O livro vem dividido em 8 partes (ex.: dê a volta às coisas), sendo que cada uma delas reúne uma série de conselhos que são depois explicados com mais detalhe (ainda assim, a meu ver, de forma básica) (ex.: que grau de excelência quer atingir?, não coloque a inteligência à frente da comunicação, não prometa o que não pode dar, saiba os desejos dos clientes, etc.).

Um livro provavelmente mais interessante para quem trabalha na área.

Minimalismo 

◼ "Clutter Rehab" de Laura Wittmann (organizadora profissional e autora do blog “I’m an Organizing Junkie) - Este foi um dos primeiros livros que li, sobre destralhe e organização. Portanto, foi uma releitura, numa altura que procurava inspiração. 

A ideia é que consigamos assumir o controlo da nossa casa, aprendendo a eliminar a desordem,  organizando e arrumando todas as divisões.

Apesar de ser um livro pequenino, reúne 101 dicas para uma casa mais organizada. Umas podem-te parecer mais básicas, mas outras poderás conhecer pela primeira vez e farão muito sentido. Devo dizer, que apliquei várias das dicas sugeridas.. 

Eis alguns exemplos de dicas sugeridas pela autora: usa recipientes para estabelecer limites (número de objetos) e fronteiras (entre categorias de objetos); cria um espaço para as mochilas (dos miúdos); cria um espaço para os jogos de tabuleiro; envolve as crianças na organização; usa etiquetas (para todos saberem onde guardar os objetos); regista a data de validade na tua maquilhagem (a autora inclui uma lista de validades dos produtos, após a sua abertura); mantém os conjuntos de brinquedos juntos, em salas específicas; seleciona as tuas 3 tarefas principais do dia; etc.

Ecologia

◼ "A Sexta Extinção" de Elizabeth Kolbert (jornalista, especializada em reportagens sobre ciência, nomeadamente sobre o aquecimento global) - Outra releitura. Que fazer? Este livro marcou-me de tal forma que não consegui resistir (aliás, entrou para a minha lista pessoal de “Livros que melhoraram a minha vida”). Recomendado por personalidades como Yuval Noah Harari, Al Gore, Bill Gates e Barack Obama e ainda ganhou um Prémio Pulitzer. Por isso, já podes imaginar o quanto o seu conteúdo é valioso!  

Trata-se de um livro de divulgação científica, que explica, com uma clareza incrível, as provas que existem das 5 extinções em massa que ocorreram no passado. Fala também daquela que o Ser Humano está a provocar actualmente: a chamada Sexta Extinção. Muito triste saber que mais de um quarto de todos os mamíferos estão em vias de extinção, tal como 40% dos anfíbios, um terço dos corais e dos tubarões, um quinto dos répteis e um sexto das aves. 

Há que realçar, que a autora não escreve somente sobre a investigação de vários cientistas - ela própria foi verificar in loco, as provas daquilo que escreveu no livro. 

Com a chegada da pandemia de Covid-19, algumas das passagens do livro pareceram-me incrivelmente semelhantes com o que se passa atualmente. Espreita só isto:
- “Como nunca se deparara com o fungo (ou vírus, ou bactéria), o novo hospedeiro não tem defesas. Estas, como são designadas, podem ser absolutamente fatais.” (Nesta parte do livro, a autora estava a falar de como nós humanos podemos, inadvertidamente ou não, propagar pelo mundo: organismos patogénicos [onde se incluem os vírus] e espécies invasoras. Com isto, levamos à extinção ou colocamos em grande perigo uma imensidão de espécies).

- Num dos capítulos dá-se o exemplo de como em menos de meia dúzia de anos, graças a um fungo levado da Europa, morreram cerca de 6 milhões de morcegos, nativos dos EUA. Cito: “A sociabilidade dos morcegos acabou por ser uma grande benção para o Geomyces destructans [nome do fungo]. No Inverno, quando se juntam em aglomerados, os morcegos infectados transferem o fungo para os não infectados. Os que sobrevivem até à primavera dispersam-se transportando consigo o fungo. Desta forma, o Geomyces destructans é transferido de morcego para morcego e de gruta para gruta.” Alguma semelhança com a realidade, neste caso, não é ficção.

- Agora uma última citação, desta vez para nos dar força para seguir em frente. A mesma, transcreve as palavras ditas pelo diretor de um grupo de conservação no Alasca à autora: “As pessoas têm de ter esperança. Eu tenho de ter esperança. É o que nos dá forças para continuar”. 🙏🏻 E é assim mesmo, não é verdade? 

Se este livro não mudar mentalidades, não sei o que mudará... 

Saúde

◼ "Ayurveda" de Geeta Vara (terapeuta pós-graduada em Medicina Ayurvédica pela Middlesex University London) - Confesso que apesar do meu entusiasmo pelo Ayurveda, só comecei a ler o livro à direita. Vou por isso transcrever o texto da contracapa do livro e indicar o que encontrei ao folheá-lo.

Em primeiro lugar o "Ayurveda é um sistema de medicina tradicional com 5000 anos que preconiza uma abordagem holística à vida e ao bem-estar. 
Através do equilíbrio entre as três forças energéticas do corpo, conhecidas como doshas, o Ayurveda vai além das práticas convencionais para satisfazer as necessidades físicas, emocionais e mentais de cada um.
A especialista Geeta Vara apresenta várias dicas e inúmeros exercícios, que podem ser personalizados, ensinando a reconectarmo-nos com o nosso ritmo circadiano e, por consequência, a alcançarmos a tão necessária autocura.”

A autora dividiu o livro em 3 partes:
I - A ciência do corpo e da mente (onde poderás descobrir coisas como: o estado de saúde atual, o que é o Ayurveda, o teu tipo de mente e corpo específicos, como as doenças se desenvolvem, etc.);
II - Da doença ao bem-estar (aborda temas como: encontrar o equilíbrio e identificar sinais precoces de desequilíbrio, compreender melhor o epicentro da tua saúde [o intestino], desintoxicação, os alimentos como medicamento, uma alimentação saudável, etc.);
III - A arte dos cuidados de saúde preventivos (onde a autora fala: dos pilares da saúde [sono, exercício e sexo]; de como enfrentar problemas como o stress e a fadiga, distúrbios do sono, enxaquecas, excesso de peso, etc.de rituais de saúde diários; da medicina da mente, etc.).

Inclui ainda várias receitas e dicas práticas.

◼"Mude de Horário, Mude de Vida" do Dr. Suhas Kshirsagar (terapeuta doutorado em Medicina Ayurvédica pela Universidade de Pune na Índia) - Acho o conteúdo deste livro muito, muito interessante! E ainda demonstra como estudos científicos recentes comprovam o que há muito se dizia no Ayurveda.

O autor fala de como os ritmos circadianos (os ciclos biológicos determinados por variações de luz e temperaturas), afetam profundamente o nosso bem-estar. Cada um tem o seu próprio “relógio genético” - que determina a hora mais indicada para cada atividade, mas nem sempre o escutamos. Daí que o tipo de rotina que levamos, diga muito sobre a nossa saúde. 

O autor propõe-nos refletir sobre isto, logo no início do livro. Passo a citar:
Diga-me qual é a sua rotina diária e eu dir-lhe-ei como se sente de saúde. Diga-me o que come e dir-lhe-ei se lhe é fácil ou difícil manter o peso ideal. Diga-me quando faz exercício e eu dir-lhe-ei se está a fortalecer ou a desgastar os sistemas do seu corpo. Diga-me a que horas desliga a televisão ou o computador e eu dir-lhe-ei qual é a sua sensibilidade ao stress. Diga-me a que horas adormece e eu dir-lhe-ei se precisa de café para se manter acordado à tarde, ou se descarrega a sua frustração nos familiares após um longo dia de trabalho quando só queria ser paciente.” 

Assim, hábitos como saltar refeições para perder peso ou por exemplo trabalhar até tarde e depois “compensar” as horas de sono ao fim-de-semana, podem afetar-nos negativamente. 

Com este livro, o autor ajuda-nos a conhecer melhor o nosso cronotipo, para podermos ter uma vida mais saudável e aumentar o nosso bem-estar. 

Apresenta ainda um programa passo-a-passo de 30 dias, para nos alinharmos com o nosso “relógio genético” e construirmos o nosso “dia ideal”. Com este programa, aprendemos a gerir com mais eficácia as nossas necessidade de nutrição (de modo a ter um peso saudável), de trabalho (para ser mais produtivo), de repouso (de modo a reduzir o stress) e de exercício (para ter mais energia e saúde).

História

◼ "O Pequeno Livro do Grande Terramoto" de Rui Tavares (escritor e historiador, formado em História da Arte, em Ciências Sociais e em História e Civilizações) - Este foi o primeiro livro que comprei em 2020. Encontrei-o numa livraria pitoresca, no centro de Óbidos, quando a vila ainda emanava aquela energia boa do Natal.

Apesar do livro inicialmente não me ter cativado tanto, pouco depois, tudo mudou. Foi uma leitura entusiasmante, difícil de resistir a cada página. 

O autor começa por abordar várias catástrofes e a sua influência no mundo: fala do terramoto de 1755, mas também do 11 de Setembro de 2001, do tsunami de 2004 ou dos incêndios de Roma de 64 d.C. 

Entretanto imagina como seria se não tivesse ocorrido o terramoto, levando-nos numa viagem imaginária por essa Lisboa antiga. E aqui eu própria reflito. Na pesquisa pela minha árvore genealógica, recentemente descobri que uma das minhas avós nasceu numa das freguesias de Lisboa (que viria a ser uma das mais afetadas pelo terramoto). Pouco depois da catástrofe, ela e os pais mudaram-se para uma das freguesias de Abrantes e a minha avó já casou com um homem local. E aqui reflito que, ironicamente, há grandes probabilidades de eu ter nascido, somente porque existiu o terramoto. Se tal não ocorresse talvez a minha avó e a família, tivessem ficado por Lisboa. Pois é, quem poderia imaginar uma coisa destas?...

Mas voltando ao livro, algo muito interessante é que o autor nos mostra os relatos detalhados, de quem estava lá e vivenciou o  terramoto (aqui percebemos a real dimensão da tragédia). Mostra-nos também o contexto histórico prévio e o que se fez e como se reagiu após a catástrofe. O impacto no panorama cultural da época e que sentimentos nos provoca ainda hoje.


◼"Os Carvoeiros do Pego" de Joaquim Gomes dos Santos (professor de Matemática aposentado [foi meu professor, aliás], filho de carvoeiros, que acompanhou os pais em carvoarias) - Este livro diz-me muito. Fala de uma parte da história das minhas gentes (os meus pais quando jovens também participaram em carvoarias), da sua cultura e até da linguagem única. Tudo isto com origem na minha aldeia natal (o Pego, concelho de Abrantes).

Os carvoeiros eram homens e mulheres que, sazonalmente e durante vários meses, partiam da sua terra, para fabricarem carvão vegetal. Estes trabalhos ocuparam uma parte significativa dos Pegachos (habitantes  do Pego), que se deslocavam normalmente para herdades alentejanas, das beiras (confinantes com Espanha) e também do Algarve. 

Esta atividade tradicional era difícil e não tinha muitos seguidores no país (por norma quem fazia este trabalho eram os pegachos e os habitantes da Comenda, freguesia do concelho do Gavião). Daí ser algo tão marcante da minha terra.

O livro explica de forma muito interessante não só a atividade, mas a própria vida das pessoas naqueles tempos (o que inclui relatos pessoais do próprio autor). Tem imensas fotos da atividade e dos objetos utilizados - tanto no trabalho, como na vida diária (até inclui uma lista de compras da época, feita por um tio meu!). 

Acho particularmente interessante, como o autor também relata episódios da vida quotidiana: as mulheres a pentearem os seus longos cabelos com as suas travessas (até eu me lembro das idosas pegachas fazerem isso [uma travessa é um pequeno pente curvo, estreito e comprido, com o qual se penteavam e também seguravam o cabelo]), a dificuldade que era ter acesso a peixe fresco do mar (sempre havia o bacalhau seco e o resultado de pescarias locais, mas só ocasionalmente aparecia um “sardinheiro” [peixeiro] a vender peixe), as orações que diziam em dias de trovoadas, quando ouviam o relato do futebol com a telefonia sintonizada na Emissora Nacional...

Na foto, incluo talvez o prato mais típico das carvoarias: as “migas carvoeiras”. É uma delícia! Creio que não há pegacho que não goste (até os meus filhos adoram!). E é super-ecológico, pois é feito a partir de pão mais duro e até a água de cozer as batatas é reaproveitada. Não há o mínimo desperdício! Depois é acompanhada ao gosto de cada um (cá em casa costumamos acompanhar com peixe e salada de tomate). Sinto uma enorme gratidão por o meu pai ter partilhado esta receita comigo (talvez um dia a partilhe por aqui).

Por último, o autor tem um dicionário com termos utilizados pelos pegachos (e acredita, há termos mesmo únicos). Ex.: um “avio” é uma lista de compras semanal, o “desinjum” era a primeira refeição do dia, as “orvelhanas” são amendoins...

Penso para mim mesma: a tradição pode ter-se perdido, mas talvez isto tenha tornado os pegachos tão únicos e tão unidos. Nas outras terras diziam que certamente éramos descendentes de ciganos (o que não é verídico, pois o Pego já existia muito antes dos ciganos chegarem a Portugal). Mas esta fama advém do  fato de nos podermos até zangar entre nós, mas quando um está mal, os outros acorrem em conjunto para nos defender (recordo isto até nos tempos da escola). E depois há aquele sentimento de pertencer ali, uma espécie de orgulho inexplicável. Os meus amigos de outras terras, diziam que éramos “bairristas”. Talvez!... é uma coisa que está mesmo em nós.

Pela descrição, percebem que gostei do livro. Mexeu muito com as minhas emoções. (Foi editado por uma associação local, a Cres.Ser, creio que deve de estar à venda em livrarias abrantinas e no Posto de Turismo de Abrantes [o Welcome Center]).


◼"Os Direitos das Mulheres" de Victoria Parker (escritora) - Reencontrei este livro, que já tem uns bons anos (originalmente editado em 1996), e não resisti a relê-lo. Fala-nos da evolução dos direitos das mulheres ao longo do tempo (alcançados a duras penas, por vezes algumas mulheres até tiveram de fingir ser homens), mas também da atualidade (que, para ser franca, mudou, mas não tanto quanto desejável). E quando penso no que se está a passar atualmente no Afeganistão, com um provável retrocesso gigante dos direitos das mulheres, sinto que este livro reflete sobretudo o que se passa nas sociedades ocidentais. Porque os direitos das mulheres em algumas sociedades estão a anos-luz de distância da nossa realidade.

Ainda assim, este livro pretende demonstrar a relevância da questão dos direitos das mulheres, apresentando razões para a luta por esses direitos, nomeadamente: por uma questão de justiça, por as mulheres terem capacidades idênticas ao homem (mas muitas vezes terem de se esforçar em dobro), pelas desigualdades e discriminações que ainda existem (e quando se fala de discriminações, aqui também se incluem os homens: quantos ainda são julgados por terem um comportamento considerado menos masculino?).

Uma questão para refletir, que cito do livro: “Porque razão distingue a nossa sociedade os indivíduos de acordo com o sexo e não de acordo com a competência?” 

Um aparte, só para esclarecer a questão do que é o feminismo. Vou citar outra autora, a Ruth Manus:
Já ouvi, muitas e muitas vezes, mulheres a dizer que não são feministas, mas, sim, a favor da igualdade entre homens e mulheres. Esperem lá. Há alguma confusão nessa conversa. É um erro comum as pessoas acharem que o feminismo é o contrário do machismo. Não é 
O feminismo é a teoria que sustenta a igualdade política, social e económica entre homens e mulheres. O que o feminismo procura é a igualdade de géneros e a liberdade da mulher. Feminismo não é o oposto do machismo. O machismo prega a superioridade do género masculino, enquanto o feminismo persegue a igualdade entre os dois.” 

Voltando ao livro, apesar da relevância do tema, este é tratado de forma leve e cativante e vem acompanhado de ilustrações giríssimas de Andrew McIntyre. Nota-se que foi escrito para as camadas mais jovens, mas continua interessante. Sobretudo por lutar por uma sociedade mais justa, em que se reconhece que cada um é diferente, mas ninguém é superior a ninguém.


Ficção

Vou escrever separadamente, porque este livro reúne duas obras de Jorge Amado. E há que tempos que não lia Jorge Amado, um autor que marcou a minha adolescência. Transportava-me para aquele mundo das novelas brasileiras, onde quase podia sentir o cheiro da comida baiana, o colorido daquelas gentes, as desigualdades sociais e uma espécie de dicotomia relativamente ao tratamento das mulheres (que por vezes me soava a machismo, noutras me parecia que havia um empoderamento das mesmas... mas obviamente que temos de enquadrar os romances, na época em que foram escritos). Dos romances que mais me marcaram foram “Os Capitães da Areia” (história comovente, sobre os meninos de rua da Bahia de 1930) e a “Tieta do Agreste” (foi um reviver da telenovela que tinha assistido na infância).

Os livros abaixo são contos mais pequenos, que li pela primeira vez. Eis o resumo dos mesmos.

◼ "A Morte e a Morte de Quinco Berro Dágua" de Jorge Amado (romancista, formado em direito e também jornalista) - Este é um conto muito louco, onde “(...) Jorge Amado narra a história das várias mortes de Joaquim Soares da Cunha, vulgo Quincas Berro Dágua, cidadão exemplar que a certa altura da vida decide abandonar a família e a reputação ilibada para se juntar à malandragem da cidade. Algum tempo depois, Quincas é encontrado sem vida no seu quarto imundo. Sua envergonhada família tenta restituir-lhe a compostura, vesti-lo e enterrá-lo com decência; mas, no velório, os amigos de copo e farra dão-lhe cachaça, despem-no dos trajes formais e fazem-no voltar a ser o bom e velho Quincas Berro Dágua. Levado ao Pelourinho, o finado Quincas joga capoeira, abraça meretrizes, canta, ri e segue a farra em direção à sua segunda e agora apoteótica morte.” 

◼ "A Descoberta da América pelos Turcos" de Jorge Amado (romancista, formado em direito e também jornalista) - “O sírio Jamil Bichara e o libanês Raduan Murad desembarcam na Bahia em 1903 e  instalam-se na região grapiúna, litoral sul da Bahia, o 'el dorado' do cacau. O jovem e trabalhador Jamil abre um empório em Itaguassu. O experiente e boêmio Raduan prefere Itabuna. Ali, nova oportunidade de 'fazer a América' se apresenta ao ‘ urco' Jamil: o comerciante Ibrahim Jafet quer casar sua primogénita - a feiosa, ácida e incólume Adma. Em troca, oferece sociedade no armarinho 'O Barateiro'. A descoberta da América pelos turcos, escrito no início dos anos 90, por ocasião do quinto centenário da descoberta do continente americano, revisita a formação da cultura cacaueira e do povo brasileiro, essencialmente mestiço".


◼"Primeira Aventura no País do João" de Maria Alberta Menéres (autora de livros infantis, licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) - Encontrei este livro da minha infância no sótão do meu pai (ilustrado na capa por mim também - como era tradição [minha] na época 😅). Perdi a conta às vezes que o li e não resisti a lê-lo novamente… 

Na história, em banda desenhada, um grupo de amigos parte de Trás-os-Montes em busca do Manuel e da Maria, que haviam saído da terra em busca de uma vida melhor. Como desconheciam o seu paradeiro, o grupo de amigos viaja de norte a sul de Portugal (o pombo-correio também voou até às ilhas). Por entre aventuras vão descobrindo várias tradições, cultura e história(s) do nosso país.

Talvez hoje só encontres este livro em feiras de antiguidades, ou algures pela Internet, pois trata-se de uma edição de 1977 (eu nem sequer tinha nascido na altura). No entanto, vale bem a pena! O livro tem imensa piada e é bem giro para apresentar o país aos mais novos. 

Eis alguns dos seus quadrinhos:


Fotos: Mafalda S.
Parceria: Wook - Significa que se comprares através de links que estejam direcionados à Wook, estarás a ajudar o blog. Isto porque uma pequena comissão das tuas compras, reverterá em descontos nas nossas aquisições de livros. Desde já, obrigada!
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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Pensamento/Lema da semana #563


Rodeie-se de pessoas que ‘brilham’ até na escuridão, 
repletas de ‘energia’ saudável, 
que tentam descobrir sempre o lado positivo 
e as aprendizagens de tudo o que lhes acontece, 
que são autênticos ‘combatentes’ de emoções negativas ‘em excesso’, e do sofrimento inútil, 
que esperam o melhor, 
que mantêm a esperança e a serenidade de que tudo se resolve, 
e de que tudo é possível.” 
Margarida Vieitez

Foto: Stocksnap
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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Pensamento/Lema da semana #562


"A beleza das coisas 
existe no espírito de quem as contempla." 
David Hume

Foto: Pixabay
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segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Pensamento/Lema da semana #561


"Se te sentires cansado/a,
aprende a descansar,
não a desistir."
Autor desconhecido

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