terça-feira, 9 de outubro de 2018

Homenagem à minha mãe

O dia de ontem traz-me sempre à memória, a passagem da minha mãe para outra dimensão. Dei-me conta que passaram 25 anos. Tanto tempo, meu Deus!...

Quando ela adoeceu e partiu, eu era ainda muito nova. Precisava  tanto dela... Dos seus mimos, da sua orientação, da sua voz reconfortante.  Talvez por ter sentido tanto a sua falta e por ter acompanhado tudo de perto, às vezes sinto que fiquei com uma espécie de trauma. Sei lá... sinto um medo imenso de perder as pessoas que amo. É a minha fragilidade.

Mas não quero focar-me nos dias negros. Devo isso à minha mãe! Ela merece que recorde o melhor dela, porque foi uma mulher verdadeiramente inspiradora. O melhor exemplo que poderia ter tido. E é essa memória que quero guardar.

E agora, falando directamente para ti, que estás algures numa dimensão superior:

Obrigada mãe!...

... por nunca teres vergonha de demonstrares o teu amor por mim, com mil beijinhos e palavras ternurentas - não ligando a mínima quando diziam que me mimavas demais. O amor que dou aos meus filhos, aprendi-o contigo.

... por estares ao meu lado, sempre que precisava. Naquelas difíceis crises de asma ou quando ficava triste por alguma outra coisa. As tuas palavras de conforto e os teus mimos, tornavam tudo mais fácil.

... pelo teu entusiasmo sempre que era bem-sucedida. Não elogiavas sempre, mas sim quando merecia. E isso motivava-me a continuar. Com a tua ausência, deixei de receber esse estímulo e, sim, fez-me falta. Hoje, com os meus filhos, percebo que é positivo elogiá-los quando se esforçam. Não em demasia, na medida certa. Sabes que mais? Também resulta com eles.

... pela tua coragem como mãe. Estou a lembrar-me quando aquela cobra estava a observar-me no quintal. Fechaste-me discretamente em casa e... bem, foste tratar do assunto. Foi contigo que observei pela primeira vez, como as mães ganham uma coragem/força sobre-humana quando sentem que os seus filhos correm perigo.

... por nunca me teres batido quando fazia disparates (sinceramente também não me lembro de castigos). Chamavas-me sempre à atenção e ensinavas-me a fazer o certo. Contigo aprendi que se pode ensinar sem agressão e com amor... vá, e também com mmmuuuiiitta paciência.

... por transformares as tarefas domésticas em momentos divertidos. Digamos que aprendi, brincando. Ensinavas-me a limpar, enquanto cantávamos (e que voz que tu tinhas!). Ensinavas-me a fazer a cama, enquanto me contavas histórias do dia-a-dia, ou de algum antepassado (essa coisa das histórias de encantar, eram mais para o pai). Aprendi a passar a ferro, observando-te. Brincavas comigo «às vizinhas» enquanto passavas a roupa com o ferro a sério e eu com o meu de brincar. Íamos às compras tu com o saco grande e eu com um exactamente igual, mas pequenino.

... por me teres inspirado a amar os livros. Ensinaste-me tu a ler, quando tinha 3 anos (e não fiquei com nenhum trauma, mas sim com uma paixão louca por livros). Nas viagens a Lisboa que fazíamos  juntas, à vinda trazíamos sempre um livro extra na bagagem. Deve de ser por isso que quando o pai me perguntava o que eu queria se um dia lhe saísse o totoloto, eu respondia "Pode ser a colecção completa dos livros da 'Anita'." 

... por me teres ensinado a amar a natureza. Quando íamos para o campo chamavas-me sempre a atenção para o cheiro de alguma flor, o sabor de alguma fruta, a beleza de algum riacho. Ainda hoje recordo a tua colecção... selos? moedas? postais? Não! Tu gostavas era de flores. Sabias o nome de uma infinidade de plantas, guardavas livros sobre flores e tinhas flores propriamente ditas por todo lado. Tenho quase a certeza, que foi contigo que aprendi a apreciar a beleza das pequenas coisas.

... pela comida de conforto que surgia lá por casa. Por exemplo os Domingos combinavam com frango frito e todos em redor da TV a ver o MacGyver. Broas combinavam com o Dia de Todos os Santos. E por vezes fazias-me umas «migas doces», coisa que na aldeia costumavam fazer para as crianças. Não tiveste tempo para me ensinar a cozinhar, mas pelo menos bolos fazíamos... e que alegria por me deixares rapar a taça! 

... por me proporcionares momentos de «hygge» à portuguesa (mesmo que não conhecêssemos o termo). Quantas vezes não ficávamos ao quentinho da lareira, com uma luz suave, a ouvir o som da chuva que caía lá fora? E nas primeiras chuvas, tão bom o cheirinho a terra molhada!

... por me teres deixado ser criança e fazer de tudo um brinquedo. As panelas, as plantas do jardim, as tuas malas... Obrigada por me teres deixado brincar, mesmo quando parti o salto do teu sapato.

... por me ensinares a manter vivos os momentos felizes. Que saudades quando me contavas a história por detrás de cada fotografia, me mostravas os cadernos da mana e me dizias como ela era, ou me levavas ao sótão a ver as minhas roupinhas de bebé.

... por teres trazido um sentido de espiritualidade à minha vida. Não eras pessoa de andar na igreja, mas todas as noites falávamos com Deus. E isso deu-me fé não para acreditar em religiões, tantas vezes desunidas, mas sim num Ser Superior, cuja principal linguagem é o amor. E essa fé, permite-me acreditar que te encontras algures, numa outra dimensão. Um lugar onde o sofrimento, deu lugar ao amor.

Deixaste, sem dúvida, uma marca inspiradora na minha vida. Mesmo distantes, o nosso amor, unir-nos-á para sempre. Hoje guardo o teu sorriso, a tua paixão pelas flores e o teu exemplo como mãe.

Obrigada por isso! Amo-te muito.

Foto: James Wheeler
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"A Felicidade é o Caminho" também está aqui:

5 comentários:

  1. ♥♥ tesouro
    Que um dia os meus filhos possam sentir um pouco de tudo isto por mim!!

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  2. Olá!

    Muito, muito bonita esta homenagem à sua Mãe! Acredito mesmo que ela está num lugar eterno, feliz e serena, aguardando o reencontro.

    Um beijinho
    Margarida

    https://minhacasadopatio.blogspot.com/

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  3. Que homenagem deliciosa, repleta de amor e inspiração. Comoveu-me, em todos os sentidos. Um bem haja.

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  4. Lindo... Também perdi o meu pai muito cedo e sei o que sentes. Mas agora que tenho filhos, sei que o faria feliz se todos os dias procurasse ser feliz :)

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  5. Chorei lembrando-me da minha. Linda homenagem!

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