quarta-feira, 27 de março de 2013

Materialismo e infelicidade

Há uns anos estive em casa de uma família cuja felicidade parecia andar a quilómetros de distância. Estavam numa situação económica confortável, mas não costumavam gastar dinheiro em experiências positivas (viajar, jantar fora com amigos, visitar um museu, desenvolver um hobby... nadinha). O filho que nunca casou vivia longe e não tinham mais família por perto. Já reformados, ele habituara-se a estar sentado no sofá a ver TV (um aparelho novo em folha, cheio de tecnologia... que não utilizava) ou de volta de alguma tecnologia nova que tinha adquirido lá para casa (a última tinha sido um aparelho para medir a temperatura e a humidade do ar). Ela preenchia o seu tempo a tentar compor a casa (que estava atolada de bibelots) ou o seu armário (carregadíssimo, com peças antigas e actuais, milhentos sapatos - mas pelo que percebi acabava por usar sempre as mesmas coisas). Tinham também um baú com o "enxoval" do casamento. Toalhas bordadas, lençóis e outros adereços, que na maioria dos casos nunca saíram dali. Um casal simpático para as visitas, mas com alguma tensão entre ambos. Ela queixava-se que já não tinha paciência para limpar (não admira, tinha cá uma trabalheira com aquela tralha toda). Pareciam ser uns sortudos, com todo o tempo para eles. Mas afinal eram pessoas tristes, que não aproveitavam ao máximo o que a vida ainda tinha para lhes dar. Sei que ela faleceu de um AVC. Dele nunca mais ouvi falar.
 
É triste a história que relatei, mas tudo isto para lhe dizer que o materialismo não contribui para a felicidade das pessoas. Em muitos casos costuma até estar associado à infelicidade.
 
Quer saber porque ter mais e mais objectos, não aumentará a sua felicidade?
- a felicidade alcançada pela aquisição de objectos ou por objectivos monetários, costuma ser muito breve. Normalmente, passado pouco tempo a pessoa volta a sentir-se insatisfeita e a desejar algo novo;
- o materialismo pode roubar-nos tempo para actividades que nos fariam mais felizes: estar com a família e os amigos, desfrutar de um hobby, passear, meditar, ajudar a nossa comunidade...;
- as pessoas materialistas têm normalmente espectativas demasiado elevadas sobre o prazer que os bens materiais lhes podem proporcionar, espectativas essas que normalmente se transformam em vazio, desilusão;
- ao querermos mais e mais objectos estamos a ensinar aos nossos filhos que é isso que traz felicidade. Em épocas de crise, as crianças habituadas a terem tudo têm muito mais dificuldade em lidar com a frustração e uma maior propensão para se sentirem infelizes;
- quando acumulamos tralha, para além de termos muito mais tempo ocupado em tarefas de organização e limpeza, não conseguimos colher os benefícios de sermos generosos, de doar algo a quem precisa (gestos de generosidade contribuem para a felicidade humana);
- quando nos identificamos meramente com bens materiais, corremos o risco de viver uma vida sem um sentido mais profundo. Afastamo-nos por vezes da nossa espiritualidade, da oportunidade de ter um propósito de vida (e se lerem posts anteriores, sabem que isto aumenta a nossa felicidade, o saber que a nossa vida contribui para algo maior que nós).
 
Isso significa que não devo ter objectos ou dinheiro?
Claro que não. O segredo está na forma como os utiliza. Significa ainda que deveria concentrar-se primordialmente em ser feliz, ao invés do seu principal objectivo ser o dinheiro ou ter mais e mais coisas. 
 
De que forma posso usar o dinheiro e objectos a meu favor, de modo a que contribuam para a minha felicidade? 
- O dinheiro é importante na medida em que lhe permite usufruir de experiências positivas e gratificantes (viajar em família, por ex.). Contudo pese sempre os custos (o que tem de abdicar) para o alcançar. Por vezes é preferível ter um ordenado menor e estar mais presente para a família, do que ter dinheiro para encher os seus filhos de presentes, mas estar sempre ausente;
 
- Já os objectos que poderão contribuir para a sua felicidade (com moderação, pois "less is more") são os seguintes:
Ex.: a primeira roupinha do seu filho, uma lembrança de uma viagem especial...;
b) objectos associados a um hobby ou uma paixão que tenha na vida;
Ex.: no meu caso que gosto de estudar a felicidade, aprecio o facto de ter, ler e reler livros sobre o tema;
c) objectos decorativos que reflitam a sua personalidade e não as tendências da moda - de modo a que a sua casa seja um refúgio para o stress do dia-a-dia;
d) objectos que contribuam para melhorar a sua auto-estima;
Ex.: roupas que lhe assentem bem, adequadas à sua personalidade e ao seu corpo.

Por isso, em conclusão, use o dinheiro e os objectos a seu favor. Mas esqueça o materialismo, a sua felicidade é mais importante.
 
Foto: Google images - autor não identificado

3 comentários:

  1. Ter os objectos sem nunca tirar prazer disso, ganhar dinheiro sem o querer gastar em coisas que dão prazer normalmente resulta em pessoas mais amargas, frustradas, de mal com a vida.

    Beijinho (não me esqueci do teu desafio das 11 coisas; não tenho tido muito tempo para um post com pés e cabeça, bem pensado)

    beijinho

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  2. Gostei bastante desta reflexão e vejo que o seu blog continua muito atraente e com muito sucesso.PARABÉNS!

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