terça-feira, 16 de setembro de 2014

As crianças aprendem a ser felizes na escola?

Na passada Sexta-feira foi a apresentação da Letícia na nova escolinha. Vai entrar para o 1.º ano, mas no mesmo Centro Escolar - o Jardim-de-Infância que frequentou fica mesmo ao lado e partilham os mesmos espaços exteriores. Ela estava apreensiva, mas após a Sexta-feira, ficou desejosa pelo início das aulas.

Confesso ter estado numa atitude muito observadora ao que se passa quer naquela escola, quer na educação no nosso país. E isto leva-me a questionar: será que as crianças aprendem a ser felizes na escola?

Eis a minha opinião (pessoal, mas que vai ao encontro do que tenho estudado nos últimos anos):

1) As crianças mais bem sucedidas no futuro, não são necessariamente as que têm melhores notas. Na realidade o QI só conta para 20% do êxito futuro da criança. Outros factores como o domínio da inteligência emocional, têm um peso muito maior num futuro bem sucedido. 
- Nisso a educação em Portugal ainda peca. Os programas são demasiado extensos, os professores obviamente sentem pressão para os cumprir na totalidade e continuamos com uma educação muito concentrada nos bons resultados dos testes. Por oposição, em países onde as crianças são das mais bem sucedidas do mundo em termos escolares, a par de serem bastante felizes, a educação valoriza a aprendizagem pela experiência, estimula a inteligência emocional, a educação cívica e o respeito pelos outros... no fundo estão atentos ao que as investigações na área da Psicologia têm sugerido e tentam aplicá-las na vida prática. Algo que deveríamos ter em mais linha de conta no nosso país.

2) A sobrecarga de actividades extra-curriculares sobre uma criança, não conduz propriamente à sua felicidade, mas antes ao seu cansaço. Infelizmente em Portugal é muito complicado para os pais conseguirem equilibrar a sua vida profissional, com a vida familiar (novamente ao contrário dos países mais felizes do mundo). Contudo, o que muitos patrões - sem visão de futuro - deveriam de perceber, é que para que um empregado seja feliz (e certamente mais produtivo) precisa deste equilíbrio para si, e as crianças, futuros profissionais de amanhã, precisam que os pais tenham tempo para eles. Sejamos realistas, parte das actividades que as crianças têm, acabam por ser necessárias porque os pais não as conseguem ir buscar mais cedo (claro que há outros motivos para a sobrecarga, como a crença de que os seus filhos assim serão mais bem sucedidos e até a falta de hábito de dedicar tempo exclusivo à família). 
- No caso da minha filha tenho a sorte dos avós poderem ficar com ela, algum tempo após a saída da escola (sei que nem todos têm essa possibilidade, infelizmente). Foi a minha filha que decidiu se queria ou não ter alguma actividade extra-curricular, após lhe termos explicado como tudo funciona. Ela disse que gostaria de ter inglês (até porque já lhe ensinámos em casa, meio a brincar, muito desta língua). Assim, num único dia sairá às 17h30. Nos restantes sairá às 16h10. Tem igualmente natação ao Sábado (para além da aprendizagem ser importante e de ter sido o médico a aconselhá-la a ir - por causa da bronquite - ela gosta desta actividade) e somos nós os pais que a levamos. Não creio que a minha filha vá ser mais mal sucedida por não a ter inscrito em expressão plástica (ela já é a «princesa» dos trabalhos manuais) ou em Educação Física (já participa na natação), etc. O que considero absolutamente injusto é alguns pais não terem mesmo hipótese de irem buscar os filhos antes das 19h, quando era o que ambos desejavam - filhos e pais. Este equilíbrio entre vida familiar e profissional, é algo que urge melhorar em Portugal.

3) A educação para a felicidade não compete só à escola, mas também aos pais (e a meu ver à própria sociedade em geral).
- Tenho a certeza absoluta que a minha filha foi feliz no Jardim-de-Infância por onde passou. Um infantário público, mas com pessoas extremamente dedicadas e preocupadas com todos os domínios da educação da criança (escolar, cívica, emocional, etc.). Por isso acho incompreensível a decisão tomada pelo agrupamento escolar no corrente ano. Então não é que proibiu os pais/avós ou quem vai levar e buscar as crianças à escola e jardim-de-infância, de passarem do portão da escola?! Têm de deixar as crianças no portão com as auxiliares e ir embora. (Já estou a imaginar as poucas auxiliares, a conseguirem dar conta de tanta criança, especialmente as de 3 anos, e em dias de chuva...). Não acho uma atitude correcta para com crianças tão pequenas. A escola e família deveriam funcionar em parceria e não o contrário. No entanto, esta postura, demonstra uma clara falta de abertura do agrupamento à participação dos pais na vida escolar e não é necessariamente a opinião dos próprios professores.  - À parte disto, a responsabilidade da educação para a felicidade não deve recair só na escola, mas também nos pais (já expliquei como o fazer neste post e também neste). Educar para a felicidade pode ser praticado nas mais diversas situações do quotidiano, mas também implica dedicar tempo exclusivo à família - Cá em casa, durante a semana, optamos por desligar mais vezes a televisão e a Internet, e aproveitamos esse tempo para fazer actividades em família: jogos, contar histórias, ver fotos e vídeos dos nossos momentos felizes ou simplesmente conversar. Já ao fim-de-semana, costumamos fazer sempre uma actividade especial em família (eis 23 sugestões de actividades que se podem fazer).

4) A escola deveria ser uma promotora de hábitos saudáveis, não só na teoria, mas na prática.
- Isto pode ser sonhar alto, mas seria tão bom que nos refeitórios escolares só entrasse comida biológica (como acontece em países mais ricos como a Dinamarca... mas também noutros menos abastados como a Itália). O leite escolar que é distribuído gratuitamente deveria ser também bio e, preferencialmente sem adição de açúcares (por exemplo na escola da minha filha é achocolatado, mas na zona onde trabalho, já é sem adição de açúcares e chocolate). Também se deveriam prevenir as dores nas costas, evitando que as crianças andem carregadas com excesso de material. Nota positiva para o acesso às pastilhas de flúor. Mas resumindo, gostaria que os meus impostos fossem mais direccionados para áreas como a educação e a promoção da saúde.

5) Os professores deveriam ter acesso aos materiais pedagógicos adequados, para leccionarem da melhor forma possível. 
- Não estou a falar sequer em gastos supérfluos, pois é óbvio que devemos poupar recursos. Mas a verdade é que desde que a minha filha frequenta o Jardim-de-Infância que o dinheiro público recebido é claramente insuficiente para as necessidades (as professores sempre nos puseram a par dos valores recebidos e onde foram gastos). Conclusão: a escola está muito bem equipada, mas francamente o Ministério da Educação não tem contribuído grande coisa para isso, mas sim os pais. Assim, os pais que conseguem dão voluntariamente um valor mensal para a escola (5,00 €), contribuem para a Associação de Pais, fazem vendas de produtos tradicionais, dão donativos em género, realizam quermesses. Foi assim que se conseguiu ter uma impressora, um quadro interactivo, um computador... mas também materiais de uso mais corrente como papel de fotocópia, giz, tintas, etc.

6) Os professores deveriam sentir-se mais seguros profissionalmente e estar bem psicologicamente, para darem o melhor de si, e transmitirem/contagiarem o entusiasmo pela aprendizagem aos alunos.
- Se há classe profissional em Portugal que está sobre um stress constante, acredito que sejam os professores. E acredito que isso não é benéfico para eles, e tem consequências para os próprios alunos. Existe um sistema demasiado burocrático, a questão da distância a que são colocados de casa, a insegurança de não saberem onde serão colocados (se há professores em excesso, então que o ministério verifique se é necessário manter tantas licenciaturas abertas nesta área... mas por amor de Deus, que respeitem os profissionais competentes e, sobretudo, que os motivem, em vez de desanimarem).

Volto a frisar, é a minha opinião... mas fundamentada no que tenho investigado nos últimos anos.

Foto: Jessica Lucia

2 comentários:

  1. Não podia concordar mais com isto! Cada singela palavra demonstra também aquilo que penso enquanto ex-aluna. Tenho pena que as coisas ainda não tenham melhorado tanto quanto deviam desde que sai da escola, aliás muito pelo contrario..

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  2. Cara Mafalda, obrigada pela partilha. Ainda não tenho filhos, contudo esta questão da educação passa-me muitas vezes pela cabeça, principalmente porque reconheço as coisas boas mas também as coisas más que a escola me trouxe. Graças a partilhas como as tuas neste blog, comecei a pensar um pouco na minha felicidade. E este tópico da educação na infância é recorrente em mim porque acho que este tipo de educação não valorizou aquilo que eu sou mas antes um sistema de homogeneização do ser humano. Reconheço, sem dúvida, as coisas maravilhosas que a escola traz, principalmente ao nível da socialização e nos desafios que nos proporciona. Mas temo que tenha condicionado em muito a minha felicidade. Acabei por fazer o que era suposto e não o que realmente gostava. Consciente disso, hoje tento aos poucos modificar o caminho que estava traçado para mim para passar a fazer o que realmente me faz feliz. Mas penso sempre: quando tiver filhos quero que seja diferente. Por isso queria perguntar-te: como mãe que já és, como lidaste com isto? Ponderaste em relação à escola? Que outras alternativas te passaram pela cabeça? Alguma delas é realmente boa? Tens conselhos? Obrigada pela partilha e felicidades para a tua menina.

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