quarta-feira, 1 de junho de 2016

Tornar os brinquedos realmente educativos ou como estou fã do Método Montessori

Recordo com saudades a minha infância. Quando regressava da escola estava ansiosa por me despachar com os TPC's para poder brincar. E era brincadeira quase até deitar, somente com uma pausa para jantar. Jogava ao elástico, fazia puzzles (inclusive ao contrário), brincava às mamãs com as minhas barriguitas, lia bastante... E não me faltava imaginação se não tivesse brinquedos! Sequestrava uma panela pequenina da minha avó, arrancava folhas de oliveira que fingia serem peixinhos e pronto, lá ia brincar «aos restaurantes». 

Que pena que as crianças de hoje estão a perder tudo isso. Por norma têm demasiados brinquedos, de que se cansam rapidamente. São entupidos com actividades organizadas, restando pouco tempo para a brincadeira criativa. Para não falar da actividade completamente passiva que é ficarem coladas à TV. A brincadeira está realmente a perder espaço...

Há uns tempos observava justamente que o Luquinhas (que agora tem 1 ano e 4 meses) já tinha excesso de brinquedos e não se entretia a brincar com nada. Preferia explorar tudo e mais alguma cá por casa (as minhas panelas, as flores da varanda, as molas da roupa...). 

Por isso comecei a pensar que gostaria de dar um uso mais significativo aos seus brinquedos. Gostaria que fossem mais educativos. Que a brincadeira o divertisse, mas também estimulasse a sua criatividade e concentração. Foi aqui que me reencontrei com o Método Montessori (já tinha ouvido falar nele numa cadeira da universidade, mas na altura não lhe dei importância). Entretanto, comecei a pô-lo em prática e actualmente estou absolutamente fã.

O método Montessori
Este método educativo foi criado pela médica e pedagoga Maria Montessori, tendo por base as suas pesquisas científicas. A ideia é proporcionar um ambiente estimulante (através de actividades e materiais didácticos) que desperte a curiosidade natural da criança, a sua vontade de explorar e de aprender. Passa por dar-lhe liberdade de escolha relativamente às brincadeiras e brinquedos (sempre tendo em conta a segurança e a adequação à idade), para que cada experiência seja uma oportunidade de aprendizagem. Podes conhecer mais pormenorizadamente os princípios deste método num artigo que encontrei na Net: "Método Montessori: 10 Pricípios para Educar Crianças Felizes".

O que mudei cá por casa

1 - Guardei parte dos brinquedos e deixei os brinquedos disponíveis mais organizados.
Antes o cestinho ao lado estava a abarrotar e com tudo em monte. Agora estão dispostos de forma mais atractiva. 

O facto é que demasiados objectos trazem informação excessiva para o cérebro da criança. Ela sente mais dificuldade em focar-se. Farta-se rápido dos brinquedos, ansiando sempre por algo diferente. Esta dificuldade de concentração torna a aprendizagem mais difícil.

Por outro lado, a ordem também é importante, dado que as crianças aprendem melhor em ambientes arrumados e agradáveis à vista. É por isso que no fim de uma brincadeira, desde bem cedo, é importante ensinar a criança a arrumar os brinquedos (mesmo que seja com a nossa ajuda).

2 - Perodicamente, vou rodando os brinquedos. Guardo alguns que não lhe despertam mais interesse e exponho novamente algum brinquedo guardado. 

Ah, ah...! Achei piada como quando surge um problema, a criatividade dos miúdos entra em acção. Há dias, quando mostrava este pianinho ao Lucas (um dos brinquedos que tinha guardados), ele começou de imediato a tocar com os seus dedinhos. Mas as pilhas terminaram e ele tentou de tudo para resolver... inclusive tocar com os pés. Depois lá lhe mostrei como colocando pilhas novas aquilo voltava a funcionar.

Quando guardarei este brinquedo novamente? Quando ele perder o interesse no mesmo. Não estou a falar de não querer brincar um dia. Estou a falar de estar mesmo muito tempo sem lhe ligar nenhuma.


3 - Criei cantinhos com brinquedos que estimulem os vários sentidos, por diversas áreas da casa.
A ideia dos cantinhos é para que ele tenha estímulos nas diversas partes da casa. Assim, tem brinquedos na sala-de-estar, no quarto, na cozinha e na casa-de-banho com banheira. E não, não cria excesso de desarrumação - se os brinquedos não forem excessivos e se os arrumarmos no fim da brincadeira. Por exemplo na cozinha apenas tem uma caixinha com peças de empilhar e umas panelinhas com os quais gosta de fazer barulho.

Os bebés aprendem através dos 5 sentidos, pelo que é importante que o que está disponível para brincar, tenha diferentes texturas, formas, sons, temperaturas. O brinquedo ao lado permite isso mesmo. Tal como uma roca estimularia a audição, uma esponja fofinha o tacto, uma panelinha que é mais fria ao toque também o tacto, brinquedos coloridos a visão, etc.

Um aspecto importante é que nem só os brinquedos de loja servem para divertir uma criança. Alguns objectos do dia-a-dia, podem ser apropriados para a brincadeira: uma colher de pau e uma panelinha fazem um excelente tambor, um frasco de champô vazio pode trasformar-se num barquinho, uma caixa de pastilhas pode servir de roca... Claro que antes de darmos estes objectos à criança temos de garantir que não são demasiado pequenos, que estão devidamente lavados e que as tampas estão bem seladas. Muita brincadeira, mas com segurança!

4 - Convido-o a participar nas minhas tarefas - assim brinca e aprende ao mesmo tempo.
Quando lhe dou banho, ele é que coloca os brinquedinhos na banheira. Peço ajuda para ele esfregar o corpo, para se pentear... É o máximo! Claro que não faz tudo correctamente, não é isso que importa. O que interessa é que ele aprenda com a prática.

Também o convido a dar-me as molas quando estendo a roupa (às vezes entorna o resto do cesto, mas isso é um pequeno detalhe...), a colaborar na jardinagem (ai a terra dos meus vasos!), a escolher a frutinha para o seu jantar, etc.

Passado algum tempo ele pode perder o interesse e querer fazer outra coisa. Não importa. Estas tarefas são importantes justamente para treinar a concentração e para os ensinar a fazerem as coisas por si mesmos.

5 - Explico inicialmente como funciona um brinquedo, uma tarefa ou actividade. Mas depois deixo-o explorar sozinho.
Por vezes, nós, pais, interferimos demasiado com as brincadeiras das crianças. Se ela está a brincar de forma considerada «errada», lá vamos nós querer fazer as coisas por ela. Mas isso não é certo, estamos a minar-lhe a autonomia. Ela aprende justamente fazendo, errando, testando. Temos de aprender a controlar a nossa ansiedade de querer tudo bem feito.

6 - Opto por brinquedos que estimulem a sua criatividade, concentração e coordenação.
Estes brinquedos são por vezes os mais simples: peças de empilhar, rocas, legos, cubos com peças de encaixe, etc. Os mesmos exigem mais criatividade e movimento de mãos do que  «brinquedos» que já fazem tudo (robots; bonecas que andam, fala, rolam, etc.; a televisão...). Deste modo, estimulam a concentração, a coordenação e a criatividade das crianças.

Li um artigo muito interessante sobre os efeitos nas crianças dos brinquedos que brincam sozinhos (espreita aqui). Percebi que mesmo sem ser nossa intenção, estamos a fazer com que as crianças tenham cada vez menos espaço para a brincadeira criativa (pelo excesso de actividades extra-curriculares, de brinquedos e de TV, mas também pela oferta de brinquedos desadequados).

Aqui está o meu parque de bebé, agora usado pelo Lucas (já que o da Letícia tinha peças menos resistentes... sem comentários!), Tem muito menos brinquedos do que há uns tempos atrás. Mas a verdade é que agora o Lucas presta-lhes muito mais atenção. Os seus preferidos são as bolas de empilhar e o cubo com peças de encaixe. Curiosamente, os que puxam mais pela criatividade.

7 - Coloquei os brinquedos numa altura acessível à criança.

Isto permite-lhe ter liberdade de escolha para decidir com quais brinquedos, ferramentas ou materiais quer brincar.

Claro que isto não significa que não existam regras. Ele ainda é muito pequenino, mas estou desde já a tentar ensinar-lhe por exemplo a arrumar no fim da brincadeira (tento fazer disso também um jogo). Por outro lado, volto a frisar que tudo o que é deixado disponível deve ser seguro!

Aquela prateleira com brinquedos é só um dos cantinhos que o Lucas tem disponíveis à sua altura. Ele também se diverte com outros materiais acessíveis - que não são propriamente brinquedos (as minhas molas da roupa que o digam...).

A verdade é que se constatou que as crianças aprendem mais e absorvem mais informações, quando lhes é permitido fazer as suas escolhas. Isto estimula a sua independência e auto-disciplina.

8 - Comecei a realizar algumas actividades do método Montessori.
Podes encontrar várias sugestões na Internet, de actividades baseadas no Método Montessori. Basta pesquisares um pouco.

A imagem ao lado mostra o que utilizei para realizar a actividade da "Cesta dos Tesouros". Trata-se de uma actividade para bebés, em que colocamos num recipientes vários materiais/brinquedos  para a criança explorar (no máximo 10, para não estimularem excessivamente). Estes devem ter diferentes texturas, formas, cores, temperaturas, sons... A ideia é que a criança possa descobrir novas sensações e aprender através das mesmas. 

Claro que vamos variando os objectos. Podemos utilizar utensílios do Lar (ali tenho por exemplo uma colher e uma forminha de queque), materiais da natureza (conchas grandes por ex.), instrumentos musicais, brinquedos, tecidos atoalhados, sacos de cheiro, livrinhos, etc. Devemos evitar colocar somente brinquedos de plástico, pelo facto de apresentarem sempre textura semelhante.

Esta actividade, que é só uma das muitas que podemos realizar, ajuda a criança a desenvolver a coordenação motora, a sua criatividade e concentração. 

O Lucas entretém-se imenso tempo a explorar as "Cestas dos Tesouros". Entre outras coisas, olha o que fez há dias com alguns dos objectos que encontrou. (Nota: a caixa de pastilhas, que funciona como «roca», está sempre protegida para que ele não a possa abrir. Antigamente usava cola, mas actualmente enrolo fita-cola à volta. Segurança acima de tudo!).

Mais abaixo deixo-te um vídeo absolutamente ternurento da Flávia Calina. Ela já trabalhou como Educadora de Infância numa escola que utilizava o Método Montessori. Presentemente utiliza as técnicas que aprendeu com a sua filha bebé. Neste vídeo mostra-nos uma variedade de materiais que podem servir de brinquedos, assim como a referida actividade "Cesta dos Tesouros".


Como está a correr a aplicação do Método Montessori
- Para já noto que o Lucas está muito mais interessado e concentrado na exploração dos brinquedos. Demora mais tempo a explorar cada objecto e a perceber a sua utilidade (por vezes dá-lhe até utilidades que eu não previa). Não se cansa tão rapidamente do que tem disponível.
- Não necessito de recorrer a artifícios como a TV para ele estar entretido, enquanto realizo alguma tarefa. Coloco uma mantinha na divisão da casa onde estou e ele fica entretido a brincar e, de vez em quando, a «conversar» comigo. Claro que também vê desenhos animados, mas sem cair em exageros.
- Sinto que a casa está mais arrumada e os brinquedos mais organizados. Antigamente eram montes de brinquedos por todo o lado, uma confusão. Claro que na parte de arrumar, eu tenho sempre de o ajudar. Mas não há mal nisso.

Em suma, estou realmente a adorar este método! E creio que o Lucas também.

A propósito, já que hoje é dia 1 de Junho: Feliz Dia da Criança!!!

Fotos: Mafalda S. 
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"A Felicidade é o Caminho" também está aqui:

6 comentários:

  1. Mafalda!
    Concordo plenamente com as suas sugestões. Foram atitudes que também adotei com as minhas crianças.
    Feliz Dia da Criança para as suas.

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  2. parabéns pela sua dedicação, amei ler essa postagem, mesmo sem ter filhos e até sem saber se os quero, achei incrivelmente inclusiva essa abordagem, estimulante!

    beijos (no Brasil o dia da criança é 12 de outubro!)

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  3. Olá, quando os meus filhos eram pequenos fiz uma pesquisa destes temas e acabei por aplicar algumas destas técnicas, também acho interessante o método wardof. Não segui à risca nenhum deles, mas tirei ideias dos dois métodos. como já andam pelos 10 anos já posso fazer um P.S. :) Tudo correu bem, até entrarem na escola primária, hoje e comparando com outras crianças da mesma idade, não noto diferenças significativas, principalmente porque na escola não houve continuidade do trabalho feito em casa, e a verdade é que grande parte do tempo é passado na escola. No entanto acho que todo o trabalho foi um bom investimento. Gostei muito de ler o texto e relembrar que posso voltar a aplicar alguns tópicos já esquecidos. bjs

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  4. Muito Interessante! Já tinha ouvido falar neste método e algumas coisas eu já comecei a aplicar e o seu post veio dar-me novas ideias para estimular o meu texuguinho que é super curioso e observa tudo com muita atenção Lol Obrigada pela partilha.

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  5. Também somos fãs do método Montessori. Deixo aqui uma das brincadeiras que fazia com a minha filha quando ela era mais pequena: http://www.vinilepurpurina.com/2015/10/12/legumes-de-funcao-dupla/

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