terça-feira, 5 de abril de 2016

Devemos ou não elogiar as crianças?


Nós pais, por vezes sentimo-nos baralhados. Ora nos aconselham a agir de dada maneira, ora vem algum especialista dizer que isso é errado, bom é fazer de forma oposta. Também se passa isso com o elogio: ora nos incentivam a elogiar, ora nos dizem que não devemos fazê-lo. Então, o que estará certo, no meio de tanta informação? Elogiar ou não elogiar?

Nestas situações, mesmo lendo argumentos dos dois lados, opto por me orientar através da informação baseada em diversos estudos (e não num único estudo, ou até no senso comum). 

Em primeiro lugar é preciso analisar o porquê de fazermos elogios. Na generalidade fazê-mo-lo porque queremos aumentar a auto-estima da criança, porque achamos que a criança merece ou simplesmente porque queremos que dado comportamento se repita.

Então lembrei-me de pesquisar. Se é por causa da auto-estima, que tipo de auto-estima nos traz mais felicidade? Não é uma baixa auto-estima, mas o excesso de auto-estima também não é benéfica. Como muita coisa, no meio está a virtude: para sermos felizes o que importa é uma auto-estima saudável e equilibrada, nem de mais, nem de menos. E a forma como são feitos os elogios, tem sim influência na auto-estima.

Deixo aqui um quadro resumo da minha pesquisa, com as várias atitudes dos pais face ao elogio e com o que poderá ajudar a criar uma criança mais feliz:

O “elogio” na educação das crianças
Atitude dos pais face ao elogio
Possíveis consequências
Criticar constantemente a criança
Isto leva ao desânimo (quantos de nós não desanimaríamos se estivéssemos sempre a ser criticados?).

A criança fica desmotivada para fazer o que quer que seja, pois independentemente do seu esforço, tem a sensação de que nada do que faz está bem ou irá agradar.

Poderá igualmente gerar baixa auto-estima e auto-confiança, fazendo com que a criança deixe de acreditar nas suas capacidades e naquilo que tem de bom.
Nunca dar elogios
Mesmo que não se critique, de vez em quando necessitamos de receber um elogio.

Recordo-me no trabalho, quando elogio alguém merecidamente, essa pessoa até se torna mais eficiente nos dias seguintes. Quando merecido, as crianças também necessitam deste estímulo!
Elogiar tudo e mais alguma coisa
Isto pode ter consequências sérias, nomeadamente:
a)    gerar insegurança na criança, pensando que para ser valorizada tem sempre de obter os resultados pelos quais foi elogiada;
b)    torná-la dependente de elogios e feedback externos. A sua capacidade para analisar situações por si própria e de pensar pela sua própria cabeça fica bastante reduzida, dependendo constantemente da opinião dos outros e tem igualmente bastante dificuldade em lidar com desilusões (que obviamente irão ocorrer ao longo da sua vida - como acontece com toda a gente);
c)    criar uma auto-estima demasiado elevada, o que é não só mau para si mesma (porque tem de criar toda uma imagem, mesmo que enganadora, para estar ao nível dos elogios), mas também porque pode levá-la a prejudicar os outros sem grande peso de consciência. Estas crianças, segundo Paul Martin “(…) têm mais probabilidade de se tornarem rufiões, criminosos ou racistas (…) têm tendência para reagir agressivamente quando alguém desafia a visão emproada que têm de si próprias.”
Elogiar com peso e medida (mais pelo esforço, do que pelos resultados)
O ideal é elogiar quando a criança realmente merece. Por exemplo quando uma criança estuda e depois recebe uma boa nota na escola, podes dizer “Mereceste esse resultado! Vi bem o que te esforçaste para o conseguir.”.

Os elogios devem de ser verdadeiros. Por exemplo quando a criança apresentar um desenho que não está nada bonito. Não é necessário dizer que está horrível, mas também não devemos elogiá-lo, para que a criança aprenda a confiar no que dizemos. Como refere a Magda Dias “Pode perguntar-lhe o que é que ela estava a desenhar. (…) E se ela lhe disser que é a Branca de Neve (para um monte de riscos), brinque! Pegue na folha, vire-a, torne a virar e pergunte onde é que ela está, com a cara mais curiosa do mundo. Ria-se. E depois diga-lhe: «anda lá, vai lá desenhar a tua amiga, porque ela não está aqui.” Ao sermos honestos,  quando um dia fizermos um elogio, a criança saberá que estamos a falar a verdade.

Os elogios também não devem de ser ocos, devem de ter conteúdo. Voltando ao exemplo do desenho, se este estiver realmente bonito, ao invés de dizermos “Boa! Está giro!”, podemos demorar um pouco mais a observá-lo (demonstrando interesse e atenção) e dizer algo com mais conteúdo como “Uau! Este vestido está bem desenhado, está mesmo parecido com o da Branca de Neve.

Se queremos que um bom comportamento seja repetido, podemos reforçar essa ideia, sem que a criança necessite do nosso elogio para se portar assim. Imaginemos que ela se porta bem ao jantar. Podes reforçar a ideia de que é um comportamento apreciado e que gostarias de ver repetido descrevendo (e não avaliando) apenas a situação. “Adorei o nosso jantar! Hoje até nos rimos e foi bom porque conseguimos aproveitar este momento em família.”

Por último, esta atitude mais contida dos pais, em que só elogiam quando a criança realmente merece e em que são mais honestos com a criança, é que contribui para uma auto-estima saudável, ou seja, o tipo de auto-estima que leva à felicidade. Isto porque para uma pessoa ser verdadeiramente feliz, precisa de criar recursos internos para enfrentar as inevitáveis desilusões, fracassos e frustrações na vida. Não é a falta ou excesso de elogios que a leva a isso, mas os elogios com peso e medida, que privilegiam o esforço, honestos e com conteúdo.

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"A Felicidade é o Caminho" também está aqui:

5 comentários:

  1. Olá, Mafalda.
    Muito interessante e pertinente esta sua postagem. O elogio é um motor de incentivo, mas, como em tudo, no que diz respeito à educação, precisa de boa gestão por parte, não só dos pais, como também de todos à volta da criança.
    bj amg

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  2. Olá Mafalda.
    Muito interessante,tal como tudo com equilíbrio .
    Que as ações de agora traga nos o melhor dos nossos filhos no futuro .
    Tem uma boa semana.
    Bjs
    Lulu

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  3. A verdade sempre faz bem, elogios SINCEROS são bem-vindos. Para crianças, para adultos. Elogios fazem bem, reconhecimento é tão bom... para os pequenos acho que é importante reconhecer o esforço(se de fato deu o máximo) e não só os resultados.

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  4. Engraçado como só agora nesta fase da minha vida penso nestes promenores da educação de uma criança. Agora tenho muitas vezes receio de ir fazer asneira não no modo de tratar a criança pois vou trata-lo bem de certeza mas sim no modo de educar. Que acho que aí sim está o grande desafio. Como saber encontrar o equilibrio?

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  5. A franqueza aliada ao amor parece-me ser sempre o melhor caminho de educar e se relacionar, assim como o equilíbrio para viver. Texto muito esclarecedor! Obrigada!

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