terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Vidas inspiradoras: a minha avó e os seus hábitos ecológicos

Uma das últimas fotos tiradas no quintal da avó I.,
com o velho limoeiro e uma das muitas flores.
Na altura, a avó já estava noutro plano.
Tenho muitas memórias da minha avó. Baixinha, com longos cabelos brancos apanhados em coque, risonhos olhos azuis. Era aquela avó querida que fazia vestidos para as minhas bonecas (às vezes fazia as próprias bonecas); que quando fazia coscorões no Natal, sempre se lembrava de me fazer uns, em forma de boneco; que me contava histórias à lareira; que me fazia ver a vida de forma positiva.

O que nunca me apercebi, é dela ser um exemplo em termos de hábitos ecológicos. Nunca havia pensado nisso, mas agora que decidi levar uma vida mais verde, caí em mim, e percebi como a minha avó pode ser uma fonte de inspiração.

Ok, não acredito que ela era assim, por preocupações ambientais (na altura, nem se falava disso). Creio que isto surgia naturalmente, por estar habituada a viver com a Natureza, por saber o que era melhor para as plantações e por ser uma boa «gestora» doméstica, poupando onde poderia poupar. Acredito que muitas avós foram como ela. E hoje podem servir-nos de inspiração.

Eis os seus hábitos:
- Havia muito pouco plástico na sua casa. Usava recipientes em vidro, barro, porcelana e panelas semelhantes às de hoje. A água por exemplo, era guardada em cantaros de barro ou garrafas de vidro. Quando íamos beber água da torneira do quintal ela tinha 2 cochos de cortiça (um grande para os adultos e um pequeno para as crianças... assim não partíamos copos de vidro). Era muito giro!;

Uma cesta semelhante à que a minha avó usava para as compras.
- Os poucos sacos de plásticos eram lavados e reutilizados;

- Para as compras levava sempre uma cesta de palha e ia a uma loja local que vendia a granel;

- Às refeições usava guardanapos em tecido;

- A lareira era multifunções. Nas estações frias, a avó não usava tanto o fogão. A lareira servia para nos aquecer, para cozinhar as refeições lentamente (ficavam tão mais deliciosas!) e para aquecer água (para lavar a loiça, por exemplo);

- Havia muito pouco lixo naquela casa... Como comprava essencialmente a granel, haviam poucas embalagens. As sobras de comida eram para reutilizar (comendo-as ou transformando-os em novas refeições) ou para dar aos animais;

- Tinha uma pilha de compostagem ao fundo do quintal. Nele colocava as cascas dos alimentos, ramas ou caules dos vegetais, restos de folhas... Depois, o meu avô usava aquela mistura como fertilizante;

- Cozinhava os próprios alimentos que ela e o meu avô cultivavam. Tinham também uma horta, mas aquele quintal era maravilhoso! Tinha laranjeiras, oliveiras, um limoeiro, uma árvore de lúcia lima, videiras, batatas, cenouras, feijões, ervas aromáticas, etc., etc... e muitas flores espalhadas por todo o lado. (Ah! Um cantinho do quintal estava sempre reservado aos netos, para fazermos as nossas cidades de brincar, a partir de terra e de plantas pequeninas);

- A água da chuva e de lavar legumes era aproveitada. A primeira ficava guardada num pequeno tanque e depois era utilizada para regar;

- Não deixava luzes ou aparelhos eléctricos ligados desnecessariamente;

- As roupas danificadas, sempre que possível, eram reparadas. A minha avó era uma exímia costureira (só como hobbie). A sério, conseguia fazer calças e camisas para o meu avô na perfeição. Por isso, sempre que algo descosia ou se um botão necessitava de ser pregado... isso era brincadeira de meninos para ela. Ela transformava peças maiores, em menores. Transformava restos de tecidos em pegas, mantinhas, almofadas, panos de limpeza... ou em vestidos para as minhas bonecas.

Isto é o que me lembro.

Se a avó I. ainda fosse viva, teria 97 anos. Morava numa aldeia e até tinha todas as comodidades possíveis à época (fogão, tv, máquina de lavar roupa, esquentador, telefone, casa de banho dentro de casa [muitos moradores ainda tinham ao fundo do quintal], etc.). Só não tinha carro. O avô andava sempre de bicicleta e quando necessitavam de ir a algum lado iam de transportes públicos (até ao estrangeiro foram, coisa pouco comum na altura). Aqueles hábitos ecológicos certamente haviam sido transmitidos de geração em geração, mas outros foi a minha avó que introduziu, dado que era uma poupadora nata (falo preferencialmente da minha avó, porque era ela quem geria este processo).

Após tantos anos de ausência, impressionante como a avó I. continua a fazer-me sorrir... Isto acontece sempre que a sua imagem me vem à memória. E agora também como inspiração, porque quero também eu, ser mais amiga do ambiente.

Fotos: 1.ª Mafalda S.; 2.ª lifeinpleasantville

4 comentários:

  1. A minha avó é tal e qual! Um exemplo, sem dúvida!

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  2. :) acho maravilhoso. Os seus avós eram "muito à frente", só há poucos anos ouvi falar de compostagem (e o facto de toda a minha família ser da cidade não é desculpa). Para além da questão ecológica, cada vez mais importante, existe também económica, cada vez mais somos impelidos a consumir e muitas vezes estraga-se. Fiz o curso comercial antes do 25 de abril e tínhamos uma disciplina que se chamava "economia doméstica" em que aprendíamos, entre outras coisas, a cozinhar com sobras :). Existiam as mercearias onde se comprava a granel e hoje em dia também já é possível fazê-lo, o que é ótimo. Gosto muito do seu blog, bem haja por partilhar estas histórias inspiradoras

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  3. Sabes Teresa, eu cresci não só a ver os meus avós, como também a maioria dos vizinhos mais idosos, a fazerem as tais pilhas de compostagem. Sinceramente até acho que é uma coisa antiga que se foi perdendo. Só não lhe davam esse nome mais pomposo. Mas era algo realmente muito comum nas aldeias.
    Como seria útil, se essa disciplina de «economia doméstica» regressasse!...
    Beijinhos :)

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  4. Mafalda,

    Muito bom seu post!
    Eu também me lembro das sacolas.
    Plástico? Demorou para entrar na casa das minhas avós.

    Apesar de não haver estudos sobre sustentabilidade, muitas pessoas de outras épocas faziam muito nesse sentido, talvez mais pela falta de recursos, mas os resultados eram admiráveis.

    Abraços,

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