Os últimos tempos têm sido «mmmuuuiiiitttooo» ocupados. A minha filha anda no 5.º ano e a sensação que tenho, é que trabalha mais do que alguns adultos. E isto leva-me a questionar a forma como o sistema de ensino português está organizado.
Ela sempre gostou muito de aprender. Desde pequenina que é costume levá-la a museus, à biblioteca, a exposições, a palácios, etc. Ela gostava de aprender com experiências, explorava a Natureza e pedia-me sempre um livro novo. Mas hoje disse-me: "Mãe, estou a começar a detestar estudar." O pior é que até entendo porquê.
No dia que escrevo (Sexta, 24) teve uma prova de aferição e um teste. Ontem também teve teste... Por vezes entre fichas e testes, tem uns 4 por semana (alguns com matéria bastante extensa) e ainda traz tpc's! Desde dia 10 de Maio que tem sido assim, e desta forma, serão todas as semanas até as aulas terminarem. O problema não está no estudo, mas nos excessos. Então e o tempo para as nossas crianças... serem crianças? Também gostaria de saber!
Ela tira boas notas e é responsável, fazendo o trabalho que lhe é solicitado. Contudo, chateia-me que esteja a perder o prazer pela aprendizagem, que sempre lhe foi inato. Pessoalmente penso que é um exagero uma criança de 11 anos estar tão sobrecarregada de tarefas, pois quase todos os dias tem que estudar para testes ou fichas, fazer tpc's, ou ambos, sobrando muito pouco tempo para relaxar. Na minha visão, o certo seria ela ter tempo - como qualquer pessoa - para relaxar ao fim do dia, brincar com o irmão, fazer um passeio de Domingo (até fazemos, mas tem sido super curto).
Há anos que se fala que o programa é extenso (há determinados conteúdos que, eu por exemplo, só dei no secundário!). O Ministério da Educação concorda. Hello! Então porque raio não fazem alguma coisa?
Agora convido-te a assistir a esta reportagem da RTP sobre o sistema de ensino finlandês (um dos melhores do mundo) e este artigo.
Já viste a diferença? Com isto não quero dizer que tudo está errado no nossos sistema de ensino (os resultados dos últimos anos até têm melhorado) e há que ter em conta as diferenças culturais entre os dois países. Mas que temos um longo caminho a percorrer, lá isso temos! Como em muitas coisas na vida, parece que em Portugal se tem dificuldade em perceber que é preferível menos, mas de qualidade, do que pior mas em quantidade.
Em primeiro lugar, a meu ver, a escola deveria ser um lugar que levasse os alunos a apaixonarem-se pela aprendizagem. Que os motivasse a quererem descobrir mais, a serem curiosos acerca do mundo que os rodeia e a explorarem a sua criatividade.
No que respeita aos programas, sinto que os professores não têm tempo para aprofundar aquela quantidade gigantesca de matéria. Claro que os alunos devem de ter uma visão global do mundo. Mas será tão relevante saberem o que é o «fototropismo» e depois não terem noções práticas de socorrismo, de educação financeira, etc. (não estou a falar propriamente no 5.º ano, mas ao longo de todo o percurso escolar). Não sei, mas acho que seria proveitoso aprofundar mais aquelas matérias que preparam para a vida, em detrimento de outras que, grande parte das vezes, não voltarão a ser necessárias.
Com este excesso de conteúdos, falta tempo para usar outros métodos de ensino. Falo agora do meu caso pessoal. Eu sempre detestei história, achava uma «seca». Entretanto, na universidade, tive uma professora que me fez apaixonar completamente por esta área. O que ela fez de diferente? Não esteve sempre a debitar matéria. Tirava-nos da escola e levava-nos a locais históricos. Ensinava-nos o significado de cada pedra, cada pintura, cada estilo arquitectónico... Nós próprios tivemos um trabalho de investigação sobre a história por detrás de algo existente na nossa terra (aprendi mais com esse trabalho do que em muitas aulas teóricas ao longo dos anos). Bem, mas a própria professora era uma contadora de história inata. O entusiasmo que colocava nos seus relatos era realmente cativante. Contudo, há que dizer que tinha mais margem de manobra sobre os conteúdos a abordar...
Por mim, não digo sempre, mas também substituiria parte dos testes por trabalhos práticos. Seria positivo, desde cedo, que os miúdos fossem incentivados a investigar por eles próprios. Poderiam escolher um tema do seu agrado, dentro da matéria da disciplina, e depois apresentá-lo num formato que lhes agradasse (poderiam fazer uma apresentação à turma, um trabalho escrito, uma construção em 3D, entrevistas, etc.) A minha filha fez por exemplo um trabalho sobre educação ambiental e noto que ficou muito mais atenta a estas questões (na prática, começou a preocupar-se imenso em não poluir e a reciclar o máximo possível). Mas isto foi uma excepção. Na grande maioria dos casos, os testes continuam a ser a opção mais escolhida.
Por último, sou totalmente contra as provas de aferição. Apesar de não contarem para nota, o seu objectivo, segundo o governo, é "aferir o grau de conhecimentos dos alunos". E agora questiono: então os professores andaram 1 ano inteiro a acompanhar os alunos e o Ministério acha que eles ainda não se aperceberam de quem tem mais ou menos dificuldades? Mesmo que não conte para nota, acham que os alunos ficarão de braços cruzados, sem se prepararem minimamente para a prova? (ok, alguns até acredito, mas não em termos gerais). Será que os miúdos não irão sentir uma dose extra de ansiedade, que fará mais mal que bem? E o que acho mais grave, é isto começar logo no 2.º ano. Hello! O objectivo da escola não seria motivar os alunos para a mesma, ao invés de os afastar? Para não falar de que, talvez isto também incentive à competição, ao invés da cooperação (como se já não bastassem os rankings).
Enfim, mas não sou especialista no assunto. Sou simplesmente uma mãe, preocupada em que os seus filhos tenham paixão pela aprendizagem e, a par disso, tempo para a brincadeira, para momentos em família, para explorarem o mundo.
Para terminar deixo-te dois textos para reflexão:
1) do Dr. Eduardo Sá, que transmite muitas das minhas preocupações: "O (novo) trabalho infantil"
2) sobre a felicidade das crianças portuguesas: "As crianças portuguesas são felizes?"
E é isto. Apenas uma opinião de mãe.
Por último, sou totalmente contra as provas de aferição. Apesar de não contarem para nota, o seu objectivo, segundo o governo, é "aferir o grau de conhecimentos dos alunos". E agora questiono: então os professores andaram 1 ano inteiro a acompanhar os alunos e o Ministério acha que eles ainda não se aperceberam de quem tem mais ou menos dificuldades? Mesmo que não conte para nota, acham que os alunos ficarão de braços cruzados, sem se prepararem minimamente para a prova? (ok, alguns até acredito, mas não em termos gerais). Será que os miúdos não irão sentir uma dose extra de ansiedade, que fará mais mal que bem? E o que acho mais grave, é isto começar logo no 2.º ano. Hello! O objectivo da escola não seria motivar os alunos para a mesma, ao invés de os afastar? Para não falar de que, talvez isto também incentive à competição, ao invés da cooperação (como se já não bastassem os rankings).
Enfim, mas não sou especialista no assunto. Sou simplesmente uma mãe, preocupada em que os seus filhos tenham paixão pela aprendizagem e, a par disso, tempo para a brincadeira, para momentos em família, para explorarem o mundo.
Para terminar deixo-te dois textos para reflexão:
1) do Dr. Eduardo Sá, que transmite muitas das minhas preocupações: "O (novo) trabalho infantil"
2) sobre a felicidade das crianças portuguesas: "As crianças portuguesas são felizes?"
E é isto. Apenas uma opinião de mãe.
.............................................................
"A Felicidade é o Caminho" também está aqui:
Estou tão de acordo Mafalda. Para além de os miúdos não terem tempo para brincar, relaxar, etc (nem os pais, porque a família acaba por estar condiciona com tantos testes, tpc's e afins), não têm tempo para assimilar a matéria. É uma corrida contra o tempo. Por esta e por outros, é que decidi não colocar o meu filho (tem 2 anos) no infantário, pelo menos para já. Porque acho que os miúdos chegam aos 2°Ano de escolaridade, fartos da escola, das exigências, do exagero. Fazia-nos bem um meio termo! 😊
ResponderEliminarÉ verdade! Eu acabo por ajudar a minha filha mais velha, quando ela estuda (porque precisa de esclarecer várias dúvidas). Mas quando estou com ela, fico sem tempo para acompanhar o mais novo (que acaba também prejudicado). Lá lhe vou dando uma brincadeira ou o pai vai com ele aos baloiços, etc. Mas não é a mesma coisa, do que estarmos todos em família.
EliminarFizeste muito bem em não colocar o teu filho já na escola. Há muitos países onde é comum entrarem mais tarde. Ambos os meus filhos, também só entraram no Jardim-de-Infância aos 3 anos.
O que precisávamos mesmo era desse «meio termo» que falas.
Mas acho que estamos longe do "meio termo", Mafalda, infelizmente!!!
EliminarEm relação ao infantário, sabes que sinto muito "preconceito" por ainda não ter colocado o Gonçalo no infantário? Mas pronto, estou a seguir a minha intuição, e acho que é o melhor que faço. Fiz um post sobre isso, se quiseres dar uma vista de olhos. É o último post do areceitamagica.blogspot.pt. 😊
Adorei este post! Eu gosto de ler o seu blog mas este post fala-me ao coração.
ResponderEliminarO meu mais velhos está no 6º anoe e noto-lhe um cansaço em que chego ao ponto de o mandar jogar e parar um pouco.
A menina está no 2º ano e tirando o facto de ter tido um início muito atribulado por falta de professora, as coisas estão a correr bem, ela felizmente é curiosa, gosta de aprender, de ler e como ela entrou um ano mais tarde (é uma daquelas crianças que como nascem após 15 Setembro, têm a entrada condicionada no 1º ano), olha para as coisas de outra forma.
O mais pequeno poderia entrar no 1º ano já em Setembro, mas tal como a irmã vamos adiar a entrada. Eles têm uma carga muito grandes, é-lhes pedido muito e ele não perde nada em crescer emocionalmente e depois enfrentar a escola.
Acho que chegámos a um extremo, em que se dá e pede demasiado às crianças. Sim, elas são capazes de absorver muito coisa, mas tal como as esponjas, começam a escorrer, será que esta "abosrção" lhes é benéfica? É que o nível de exigência é brutal.
Às provas de aferição, chamamos-lhe de aflição, porque apenas servem para afligir as crianças, os pais e criar um stress desnecessário. O RIPA (Relatório Individual Provas Aflição) que nos é entregue no ano seguinte, também não explica grande coisa, e sinceramente para nada serve.
Enfim, são provas para aferir escolas e professores, porque aquilo que as crianças aprendem ou não é verificado pelos professores e pais.
Nany
Subscrevo totalmente Nany! Até parece que no Ministério, ninguém se importa, com os efeitos emocionais que esta pressão exagerada poderá vir a ter.
EliminarConcordo que é preferível para as crianças adiarem a entrada na escola, para quando já tiverem mais maturidade. No exemplo acima, da Finlândia, só entram aos 7 anos, são submetidos a bem menos pressão e nem por isso são um país menos desenvolvido que o nosso... antes pelo contrário.
Bjs
https://www.goodreads.com/book/show/38488585-what-school-could-be
ResponderEliminarhttps://www.goodreads.com/book/show/25719691-most-likely-to-succeed
Dois exemplos de livros que falam de mudança no sistema de ensino. A maioria dos países têm um sistema de ensino do séc.XIX e nós já estamos no séc.XXI. Não faz sentido ensinar da mesma maneira quando o mundo é completamente diferente.
É preciso romper com o status quo. Mas é muito mais fácil manter as coisas como estão...
Ena!... Obrigada pelas sugestões! Já fui espreitar e parecem bem interessantes.
Eliminar