De tempos a tempos, em conversa com mulheres já idosas (outrora mães de crianças como eu), elas dizem-me "Aproveite agora, porque as crianças crescem e tudo passa muito rápido." Palavras sábias, penso. Mas também um verdadeiro desafio...
Tanto as crianças, como os pais dos dias de hoje, sofrem pressões de muitos lados. Horários escolares e laborais sobrecarregados, agendas lotadas e, ao mesmo tempo, parece que temos de ser perfeitos em tudo (as crianças têm de ser os melhores alunos, as mulheres têm de andar sempre impecáveis e ai se sais a horas do trabalho... até parece mal). Mesmo quando nos permitimos relaxar, por vezes ficamos com remorsos, temos a sensação de que estamos a desperdiçar tempo "Com tanto para fazer e eu aqui a ler um livro...".
Claro que isto nos torna mais vulneráveis. Nem sempre temos confiança em nós mesmos e ouvir frases como "O quê? O teu filho ainda não anda? Com essa idade o meu já corria." certamente não ajuda. Andamos stressados e as próprias crianças, ao invés terem a infância mais feliz de sempre, sentem-se ansiosas e cansadas.
Vendo pela positiva, crescer no século XXI, também tem as suas vantagens. Os cuidados de saúde melhoraram radicalmente, estamos rodeados de confortos materiais (são tantos os idosos que me relatam que tinham de andar descalços), temos imensas tecnologias para nos facilitar a vida e, na generalidade, não há falta de comida na mesa.
Em suma, temos muitas chances para ser felizes! Falta-nos abrandar e deixar de lado aquela ideia de tentarmos ser perfeitos.
O Slow Parenting ou o movimento dos "pais sem pressa"
É aqui que o slow parenting entra. Um estilo parental que surgiu, em resposta às exigências excessivas a que as crianças são submetidas.
A verdade é que o excesso de actividades em que são inscritas, deve-se à crença de que assim serão mais estimuladas. Terão mais sucesso no futuro. Por outro lado, é também uma forma de as manter ocupadas, dada a sobrecarga de trabalho dos pais.
É verdade que as crianças serão estimuladas, mas a que preço? Verificou-se que um ritmo demasiado acelerado faz com que as crianças percam qualidade de vida e tenham mais probabilidade de sofrer de problemas emocionais significativos, tais como: ansiedade (em casos mais graves, depressão), dificuldades em prestar atenção/em concentrar-se, desmotivação para alcançar objectivos, dificuldade em estabelecer relações, etc.
Daí a importância do slow parenting, pois este significa:
b) desacelerar a rotina dos pais (por ex. através de uma melhor gestão de tempo, tentando produzir mais eficazmente no trabalho, mas saindo a horas…), para que seja possível também desacelerar a rotina dos filhos. Se necessário, inscrever na própria agenda, o tempo livre para a família;
c) após a escola, as crianças terem menos actividades organizadas por adultos e mais chances de brincar livremente;
d) em vez de ambicionarmos que as crianças se desenvolvam o mais rapidamente possível (ex.: “o meu filho tem 3 anos e já está a aprender a ler”), devemos deixa-las crescer a um ritmo saudável (qual o mal de ensinar a criança a ler aos 6 anos?). Deve-se também ter em conta que nem todas se desenvolvem na mesma altura (a minha filha por exemplo andou aos 10 meses, e o mais pequeno andou aos 13, e não há qualquer problema nisso. Desde que não o façam realmente tarde, sendo necessário despistar algum problema, há que respeitar o ritmo de cada criança e, sobretudo, rejeitar comparações entre elas);
e) em vez de resolvermos todos os problemas pelas crianças, de as superprotegermos, devemos permitir que explorem o mundo, que aprendam a desenvincilhar-se sozinhas (dentro das suas capacidades, claro).
A verdade é que o excesso de actividades em que são inscritas, deve-se à crença de que assim serão mais estimuladas. Terão mais sucesso no futuro. Por outro lado, é também uma forma de as manter ocupadas, dada a sobrecarga de trabalho dos pais.
É verdade que as crianças serão estimuladas, mas a que preço? Verificou-se que um ritmo demasiado acelerado faz com que as crianças percam qualidade de vida e tenham mais probabilidade de sofrer de problemas emocionais significativos, tais como: ansiedade (em casos mais graves, depressão), dificuldades em prestar atenção/em concentrar-se, desmotivação para alcançar objectivos, dificuldade em estabelecer relações, etc.
Daí a importância do slow parenting, pois este significa:
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a) priveligiar o equilíbrio e a qualidade (em detrimento da quantidade);b) desacelerar a rotina dos pais (por ex. através de uma melhor gestão de tempo, tentando produzir mais eficazmente no trabalho, mas saindo a horas…), para que seja possível também desacelerar a rotina dos filhos. Se necessário, inscrever na própria agenda, o tempo livre para a família;
c) após a escola, as crianças terem menos actividades organizadas por adultos e mais chances de brincar livremente;
d) em vez de ambicionarmos que as crianças se desenvolvam o mais rapidamente possível (ex.: “o meu filho tem 3 anos e já está a aprender a ler”), devemos deixa-las crescer a um ritmo saudável (qual o mal de ensinar a criança a ler aos 6 anos?). Deve-se também ter em conta que nem todas se desenvolvem na mesma altura (a minha filha por exemplo andou aos 10 meses, e o mais pequeno andou aos 13, e não há qualquer problema nisso. Desde que não o façam realmente tarde, sendo necessário despistar algum problema, há que respeitar o ritmo de cada criança e, sobretudo, rejeitar comparações entre elas);
e) em vez de resolvermos todos os problemas pelas crianças, de as superprotegermos, devemos permitir que explorem o mundo, que aprendam a desenvincilhar-se sozinhas (dentro das suas capacidades, claro).
Como implementar o Slow Parenting
No meu caso pessoal, posso afirmar que nem sempre é fácil desacelerar. Ainda assim, tenho as minhas prioridades claramente definidas: em primeiro lugar vem a família! Prefiro abdicar de algumas coisas para ter tempo para eles. Passei também a ter consciência da importância do tempo livre e do descanso (apesar do meu ser francamente menor do que desejaria).
As pessoas costumam dizer que ando sempre a correr, que já não participo em certas actividades. Mas a verdade é que faço algumas coisas com mais rapidez, para ter tempo para o que mais me interessa. Passei a abdicar de certas actividades e até de certas companhias, porque é com a família que quero estar. Prioridades... Nem todos entendem, mas a verdade é que é difícil agradar a todos. E, sinceramente, sendo muito honesta, o que mais me importa é a opinião e bem-estar daqueles que mais amo.
Entretanto pesquisei algumas sugestões para implementar o Slow Parenting na prática, sugestões que partilho agora contigo:
1 - Gere melhor o teu tempo - Isto é algo que eu próprio tento fazer à anos. A ideia é deixar de desperdiçar tempo no que não são prioridades, para sobrar tempo para o mais importante. Podes conhecer algumas ideias para gerires o teu tempo nos posts "Como ganhar mais tempo no seu dia-a-dia" e "O que te faz perder tempo precioso" bem como na sua continuação (post 2, post 3 e post 4).
2 – Não sobrecarregues a agenda dos teus filhos - Há tempos quando o governo sugeriu o prolongamento dos horários escolares, fiquei surpresa com a quantidade de pais que concordavam com isto, em vez de manifestarem o desejo por medidas para o equilíbrio entre vida profissional e familiar (como acontece por exemplo nos países nórdicos, que não são menos produtivos por isso). Só no 1.º ciclo, as crianças portuguesas têm a 2.º carga horária maior da Europa e depois ainda têm uma série de actividades extra-curriculares. Óbvio que o tempo para a brincadeira escasseia.
Claro que não é mau a criança participar numa ou noutra actividade extra-curricular, de que goste realmente. O problema são os excessos. Há miúdos que têm agendas verdadeiramente lotadas. Mas, a bem da sua saúde, não nos podemos esquecer que são crianças, precisam de tempo para brincar e para descansar.
Claro que não é mau a criança participar numa ou noutra actividade extra-curricular, de que goste realmente. O problema são os excessos. Há miúdos que têm agendas verdadeiramente lotadas. Mas, a bem da sua saúde, não nos podemos esquecer que são crianças, precisam de tempo para brincar e para descansar.
3 - Reserva um tempo diário para cuidares de ti - Tu próprio/a precisas de abrandar, nem que seja durante uns minutos do teu dia. Faz o te dá prazer, cuida de ti, relaxa. Isto é fundamental não só para o teu bem-estar, mas também para a felicidade dos teus filhos!
Se estiveres muito cansado/a, sem paciência e stressado/a, é mais fácil que contagies os teus filhos com a tua ansiedade. Estás mais sujeito a irritares-te perante a mínima contrariedade, e ao invés de aproveitares o pouco tempo que tens com os teus filhos, criarás ainda mais tensão dentro de casa. Daí a importância de cuidares de ti. Se estiveres calmo/a e relaxado/a, contribuirás para um melhor ambiente em família.
4 – Define um tempo para a família - A ideia é definir, se necessário na agenda, um espaço para a família poder relaxar junta, livre de interrupções. Cá em casa, costumamos reservar esse tempo mais ou menos entre as 20h e as 21h, após o jantar. É quando jogamos alguma coisa, conversamos ou simplesmente rimos em conjunto. Ao fim-de-semana, está garantida pelo menos a tarde ou então todo o dia de Domingo.
5 – Faz uma pausa das tecnologias - Pode não parecer, mas normalmente as tecnologias roubam-nos tempo precioso. De vez em quando sabe bem ver um bom filme, ou jogar no computador. Mas fazê-lo por sistema impede-nos de apreciar coisas como uma boa conversa, uma sessão de jogos de tabuleiro, uma caminhada no exterior... tudo formas de nos conectarmos enquanto família.
6 - Aprende a dizer “Não!” - Este "não" serve para ti e para os teus filhos. Por mais que queiras ser simpático/a com toda a gente, aceitando compromissos ou tarefas por obrigação, para não "parecer mal", acabas por te prejudicar e prejudicar a quem mais amas. Óbvio que não podemos ser radicais, mas há que definir prioridades, distinguir o «necessário» do «acessório».
Mesmo em relação às crianças, por vezes temos de impor limites. Apesar de existirem 1001 actividades interessantes, mesmo que queiram não podem participar em todas. Têm sim de escolher as suas favoritas, porque o tempo para brincar e descansar também é importante.
7 – Dá à brincadeira livre a importância que merece - Já que hoje se fala tanto em estímulo, ao contrário do que possa parecer, a brincadeira também é fundamental para estimular competências úteis para toda a vida. A brincadeira é uma espécie de treino, onde as crianças imitam o mundo dos adultos. Estimula competências como a criatividade, a concentração, a inteligência emocional, a gestão de conflitos e negociação com os outros (quando brincam com outras crianças) e a motivação interna para alcançar os seus próprios objectivos. Dá aos teus filhos o máximo de oportunidades para brincarem.
8 – Evita o consumismo - Hoje em dia costuma-se dizer que as crianças já não sabem brincar ou então que se fartam rapidamente dos brinquedos. Mas em parte isso deve-se ao excesso de escolhas que têm à sua disposição. Os brinquedos são tantos, que o seu entusiasmo quando os recebem logo se desvanece - passando a desejar algo ainda mais atractivo.
Na realidade, constatou-se que a criatividade e a curiosidade surgem muitas vezes do tédio e de ter menos escolhas. É preferível ter menos objectos e mais experiências positivas - ter brinquedos que não façam tudo pela criança, brincar com o que está disponível (por ex. num passeio na Natureza, pedrinhas, pequenos troncos...) e ter brinquedos suficientes (não caindo em exageros).
9 – Leva tempo a apreciar as coisas - Mais vale fazerem menos, mas apreciarem o que fazem. Estás a imaginar aquelas férias em que agendam imensas coisas e no fim parecem mais cansados do que quando estão no trabalho/escola? A ideia é fazer o oposto. Agendem pouca coisa e desfrutem de cada uma delas. Acordem mais cedo, mas saboreiem o pequeno-almoço - em vez de comerem à pressa. Passeiem no parque e apreciam os pequenos detalhes da natureza. Parem um pouco para ver o pôr-do-sol. Etc., etc. Tenta pôr isto em prática no teu dia-a-dia, sempre que possível.
10 – Dá tempo ao tempo (em relação ao desenvolvimento dos teus filhos) - Cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento, por isso não as apresses. Uma criança deve de ser uma criança e não um mini-adulto. Na realidade, por vezes quando queremos que cresçam depressa demais, acabam por tornar-se adultos imaturos e ansiosos. Ah! E nada de comparações com as outras crianças.
11 – Evita superproteger os teus filhos - As crianças precisam de enfrentar alguns riscos «controlados». Isto para que saibam lidar com as dificuldades da vida (de acordo com o seu estádio de desenvolvimento, obviamente).
Isto implica deixá-las:
a) realizar algumas tarefas (e se não ficar perfeito - muito dificilmente ficará - não as devemos julgar por isso, pois ninguém nasce ensinado);
b) experimentar novas brincadeiras;
c) não fazer tudo por elas (quantos trabalhos manuais são enviados para a escola, que tiveram mais trabalho dos pais do que dos filhos?).
A ideia do slow parenting é que dando tempo para as crianças experimentarem as coisas por si mesmas, as ensinamos a enfrentar o mundo.
12 – Faz os teus filhos sentirem que são muito amados - As crianças precisam de se sentir amadas. Isso dá-lhes segurança para explorarem o mundo, dá-lhes mais confiança em si próprias. Por isso, dedica-lhes momentos em que te desligas do resto, para estares em exclusivo com elas. Dedica-lhes a tua atenção e diz-lhe também o quanto as amas. Sim, elas precisam mesmo disto!
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Pode não ser fácil nos dias de hoje,
mas o slow parenting é uma lufada de ar fresco,
na correria destes tempos modernos.
Orienta-nos,
para que possamos ajudar as nossas crianças
a terem uma infância mais tranquila e
com mais qualidade de vida.
E no fundo... é isso que nós pais desejamos.
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"A Felicidade é o Caminho" também está aqui:
Tudo o que está escrito é precisamente aquilo que mais faz falta actualmente: vemos as crianças tão sobrecarregadas, seja a nível escolar ou extra-curricular, queremos que elas cresçam rapidamente à força toda, que fiquem independentes num abrir e piscar de olhos, compensamos a ausência emocional pelo excesso material, cada vez mais cedo escolhem jogos de computador a brincar na rua... Adorei conhecer esta abordagem e acredito que, em conjunto com o método montessoriano e a criação com apego, torne a infância numa etapa mais natural e saudável (e isso acaba também por ajudar os próprios pais).
ResponderEliminarTambém não concordo nada com a sobrecarga que as crianças daqui são obrigadas a aguentar: a fase do primeiro ciclo é importante pelo seu conteúdo didáctico mas também é necessário abrir mais o horário para que as crianças possam brincar. Faz parte da natureza da criança, brincar, e parece que tanto os pais como a escola procuram cortar isso a todo o custo. É muito triste.
Querida Mafalda!
ResponderEliminarEm tudo o que li,nesta publicação, foco-me nos desabafos que outras mães lhe segredam: "aproveite bem que eles crescem tão rápido", mais ou menos estas palavras. É mesmo! O doce das crianças converte-se num amargo de adolescente. Quando olho para a minha filha e reparo que a rebeldia amarrota a doçura que ainda existe nela, sinto uma tristeza enorme. Não me penalizo como mãe. Acompanhei, conversei, mimei e abdiquei tanto do que poderia ser para mim, estou tranquila, por isso. Daí não entender o porquê de tanta rebeldia. Cansa, magoa, envelhece qualquer mãe que esteve sempre presente na vida duma filha.
Continuo a estar presente, a mimar, a conversar, a tentar compreender/ajudar este comportamento rebelde, com um sorriso, um abraço e com o coração desfeito em lágrimas.
Beijo.