O dia amanheceu com cores cinzentas. Os carros continuam a passar na rua, mas as pessoas já não caminham. Ou se o fazem, são poucas. Ontem foi declarado o estado de emergência, mas fico com a sensação que pouco muda.
Este ano está a ser complicado para mim e para a minha família. Mesmo antes de se falar neste vírus maldito, começámos a ficar doentes. A minha asma regressou em definitivo. Estive tanta vez doente, que desde o início do ano já perdi quase 5kg. A Letícia teve as suas crises de asma, habituais no Inverno. O Lucas desde que começou a frequentar a escola, que apanha tudo e mais alguma coisa e ainda teve uma reação alérgica a um antibiótico. O meu pai, já com 80 anos, tem andado bastante doente e ainda não sabemos porquê. Tudo isto, desde o início de 2020. Não tem sido um ano fácil.
Por isso, quando ouvi falar no vírus que começou na China, fiquei preocupada. Sei que muita gente desvalorizou, dizendo que era algo um pouquinho mais forte do que uma gripe. Que por ano também morriam imensas pessoas com gripe.
Devo dizer que fiquei impressionada pela negativa, pela falta de capacidade de algumas pessoas, em se colocarem no lugar dos outros. Claro que a gripe mata. Com o trabalho de anos junto de idosos, sei como isso é verdade. Ainda assim, os números de que se falam, são diluídos ao longo do ano. Não é comparável com a quantidade de mortes que este vírus traz, num tão curto espaço de tempo.
É certo que com a maioria das pessoas irá correr tudo bem. Então e os mais fracos? Aqueles que têm doenças crónicas e os idosos? "Não tomarei as devidas precauções porque a minha saúde até é porreira." (esquecendo-se de que quem pode contagiar, pode ser alguém com um sistema imunitário mais fraco). Isto é de uma insensibilidade e egoísmo, que me deixaram revoltada.
Tendo em conta o que se estava a passar na Ásia e sabendo que as pessoas se deslocam, achei igualmente incrível a reação dos líderes europeus. Falta de controle absoluto nas entradas nos diferentes países (aeroportos, cruzeiros, fronteiras terrestres). E nada de se precaverem com mais equipamentos hospitalares.
A meu ver, e é só a minha opinião, teria sido mais fácil fechar fronteiras a tudo o que não era essencial (muito ao estilo de Macau). As pessoas deveriam ficar em casa, com excepção dos serviços essenciais, logo aquando do surgimentos dos primeiros casos.
Fico preocupada com a saúde dos mais fracos (a da minha família inclusive) e com a grave crise económica que se adivinha. Sinceramente acho que quanto mais rápido deixássemos de fazer a vida normal, mais rapidamente se controlaria o problema. Menos mortes e menos danos na economia. Esta coisa de ir a conta gotas, não me acalma minimamente. Por outro lado, também me preocupa a situação dos profissionais de saúde. Quer pelo facto de poderem contrair a doença, quer por correrem o risco de entrarem em exaustão - porque estão a surgir um elevado número de casos, em simultâneo.
O meu marido tem uma empresa e estou francamente preocupada. Se isto se prolongar, adivinham-se tempos difíceis. Aguentar dois ou três meses é uma coisa. Outra, é esta situação afectar a sociedade por mais tempo. Nem todas as empresas vivem de teletrabalho. E as soluções apresentadas pelo governo, para as empresas, não me deixam tranquila. O mais certo teria sido mesmo, conter a situação logo que surgiu (novamente, é só a minha opinião).
De qualquer modo, ontem surgiram notícias promissoras. Sabemos que a vacina vai demorar, mas um medicamento já em uso (sem necessitar por isso de testes), está a ter resultados promissores (pelo menos nos casos em que a situação não é já muito grave).
Por outro lado, é neste momento, que me agarro à história. Isto porque já aconteceram situações semelhantes, que se resolveram. Todas as pandemias passaram e esta também passará. Com a diferença de que antigamente não tínhamos, nem de longe, os medicamentos e meios que temos hoje. Isto dá-me esperança!
Quanto a mim e aos meus filhos, que estamos em casa, tentamos trazer alguma normalidade às nossas vidas. O pequenino entretém-se a brincar (com legos, carrinhos, a fazer trabalhos manuais e bolos com a mana e a ver desenhos animados...). A Letícia continua a fazer actividades para a escola e inclusive a ter algumas aulas via skype. (De louvar o esforço dos professores em trazer alguma normalidade à vida das crianças). Eu ando super-ocupada, entre as tarefas domésticas e o trabalho on-line. Sou sincera, ainda não tive tempo para pausas... poder ver um filme, ler um bom livro ou "passear" pela Net. Sinto-me cansada, mas ainda não tive tempo para momentos mais ociosos. O marido, por enquanto, tem mantido a actividade profissional no exterior, mas de forma mais reduzida. O provável é que pare mesmo algum tempo.
Mas em resumo, eis o que pretendo fazer, durante este tempo:
- manter os devidos cuidados, para tentar evitar a contaminação (evitar idas à rua; quando vamos, manter a distância social; ao chegar a casa desinfectamos/lavamos as mãos e a roupa segue de imediato para a máquina; as compras também passam por uma limpeza extra);
- manter a cabeça ocupada com tarefas (domésticas, relacionadas com os meus objectivos pessoais ou de trabalho) e também com lazer (ver as minhas séries preferidas, ler os meus livrinhos...);
- mimar os familiares que estão em casa e manter o contacto com quem está à distância (neste ponto, as novas tecnologias ajudam imenso!).
- evitar ver noticiários em excesso e assistir a programas sobre outros temas (incluindo programas que nos façam rir).
- sou uma pessoa de fé (não acredito em religiões, mas sim em Deus). Circula na Net um pedido do bispo da minha zona, para paramos uns minutos ao meio-dia e fazermos uma oração colectiva, a pedir para que tudo se resolva. Irei participar. Tenho fé de que estas orações conjuntas irão ajudar-nos!
Por último, como alguém disse um dia "Que nunca nos falte a esperança de dias melhores".
Muita força para quem me lê. Por mais difícil que pareça, iremos vencer esta batalha!
Foto: Stock Snap.
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"A Felicidade é o Caminho" também está aqui:
Gostei de ler.. Sinto-me numa ansiedade muito grande!
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A fé atravessa-nos o pensamento cruel
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Beijos e uma excelente tarde!
Olá Mafalda. Eu fui das pessoas que desvalorizou o vírus quando se começou a falar dele. Não achava que era uma gripe, mas achava que muito do que se dizia era exagero da comunicação social. Claro que depressa mudei de opinião, mas só há cerca de 2 semanas é que comecei a ficar realmente preocupada. Estou de quarentena voluntária há uma semana(com o meu marido e filho) sem ver os meus pais, avó, irmã, sobrinha... Sei que tem de ser mas não tem sido fácil! Começo a ficar preocupada também com o trabalho, pois trabalho por conta própria e apesar dos apoios que irão surgir, não serão suficientes, obviamente. Mas é como se costuma dizer, vão-se os anéis mas ficam os dedos. Também não sigo religião mas acredito em Deus, como tu. Acredito muito no poder da fé e da união! Estou desejosa de ver isto como uma mera recordação... Beijinhos e força! 😊
ResponderEliminarForça Mafalda! Já a sigo há muitos anos e já foi para mim uma fonte de inspiração e coragem variadíssimas vezes durante este tempo. Pessoalmente, entre 2015 e 2018 vivi anos negros por diversos motivos. E muitas vezes foi no seu blog que busquei alento. Não sei o que poderei fazer para retribuir, mas quero, no mínimo, deixar-lhe esta mensagem de ânimo e muito agradecimento. Tudo passa. E quando passa ficamos muito, mas muito mais fortes. Um beijinho e o desejo que este período menos bom passe depressa para todos.
ResponderEliminarOlá!
ResponderEliminarA situação preocupa, não há dúvida! Concordo que as medidas foram tardias.
Mas, se todos formos responsáveis, creio( tenho fé) que a catástrofe será em Portugal menor que em outros países.
Estou numa cidade em situação de calamidade. Todos os dias sabemos de mais alguém infectado..
Mas, confiemos! E façamos a nossa parte! Aproveitemos os momentos em família com o máximo de tranquilidade..
Sei que nem sempre é fácil..
Beijinhos
Muita saúde para todos
Um texto bom de ler. Nunca perder a esperança. Temos de nos proteger. :)
ResponderEliminarFiquei. Bj