As palavras dos últimos dias têm sido de tragédia. Não só pelo que aconteceu em Paris, mas também pela queda do avião russo e por outros atentados que vão acontecendo pelo mundo. Mal consegui dormir na noite de Sexta para Sábado, realmente triste com o que se estava a passar. Como alguém pode matar indiscriminadamente, raptar, violar, roubar e dizer que o faz em nome de Deus? Não acredito propriamente em religiões, mas acredito em Deus. Acredito que Deus é amor, não ódio. Acredito no "não matarás" e no "amor ao próximo". Também acredito que estas pessoas agem assim porque levaram uma verdadeira lavagem cerebral. Concentram-se em passagens do Alcorão, e ignoram completamente outras. E com isso, vão fazendo vítimas atrás de vítimas.
Gestos de humanidade nos piores momentos
Mas quase sempre do rescaldo das tragédias, surgem histórias inspiradoras, que demonstram como o ser humano até nos piores momentos pode demonstrar gestos de humanidade. Quem não se lembra da história da grávida suspensa numa janela do Bataclan, que foi salva pelo jovem Sébastien? Ou da porteira portuguesa, que ao invés de se trancar em casa, optou por acolher cerca de 60 pessoas que fugiam do Bataclan, algumas delas feridas. E como estes, existem outros relatos.
Gratidão, apesar de tudo...
Foi então que conheci a história de Isobel Bowdery, uma jovem de 22 anos que teve de se fingir de morta, para sobreviver no terror do Bataclan. O que me surpreendeu foram as palavras de gratidão que Isobel proferiu apesar de toda a tragédia, a forma como sobreviveu e encarou todo o horror por que passou. Eis as suas palavras:
"Tu nunca pensas que irá acontecer contigo. Foi apenas uma Sexta-feira à noite num show de rock. A atmosfera era tão alegre e toda a gente dançava e sorria. Não foi só um ataque terrorista, foi um massacre.
Dezenas de pessoas foram baleadas bem na minha frente. Poças de sangue enchiam o chão. O choro de homens crescidos que seguravam o corpo morto, baleado, das suas namoradas. Futuros demolidos, famílias de coração partido. Num instante.
Chocada e sozinha, fingi estar morta por mais de uma hora, deitada entre pessoas que podiam ver os seus entes queridos imóveis. Sustinha a respiração, tentava não me mexer, não chorar – não demonstrar a esses homens o medo que eles ansiavam ver.
Tive uma sorte incrível por sobreviver. Mas muitos não a tiveram. As pessoas que estavam lá pelas mesmas razões que eu – ter uma noite de Sexta-feira de divertimento - eram inocentes. Este mundo é cruel. E actos como estes sublinham a depravação dos seres humanos e as imagens daqueles homens a circular entre nós como abutres vão assombrar-me para o resto da vida. A forma como apontaram meticulosamente para as pessoas sem qualquer consideração pela vida humana. Não parecia real.
Eu esperava que a qualquer momento alguém me dissesse que era só um pesadelo. Mas ser uma sobrevivente deste horror deixa-me capaz de lançar luz sobre os heróis.
O homem que me tranquilizou e arriscou a sua vida para tentar tapar-me a cabeça enquanto eu chorava, o casal cujas últimas palavras de amor me fizeram acreditar no bem que há no mundo, o polícia que conseguiu salvar centenas de pessoas, os completos desconhecidos que me levantaram da estrada e consolaram-me durante os 45 minutos em que acreditei que o rapaz que eu amava estava morto, o homem ferido que confundi com ele e quando percebi que não era Amaury, abraçou-me e disse-me que ia ficar tudo bem, apesar de também ele estar sozinho e assustado, a mulher que abriu as suas portas aos sobreviventes, o amigo que me ofereceu abrigo e foi comprar-me roupa para eu não ter de usar esta blusa ensanguentada, todos os que enviaram mensagens de apoio – vocês fazem-me acreditar que este mundo tem o potencial para ser melhor, para nunca mais deixar que isto aconteça outra vez. Mas para a maioria das 80 pessoas que foram assassinadas naquele evento, que não tiveram tanta sorte, que não puderam acordar hoje e por toda a dor que os seus familiares e amigos atravessam, eu sinto muito.
Sinto-me privilegiada por ter sido uma das últimas respirações. E acreditei verdadeiramente que me iria juntar aos que não sobreviveram. Mas garanto que os seus últimos pensamentos não foram para os animais que causaram tudo isto. Elas estavam a pensar nas pessoas que amavam.
Enquanto estive deitada no sangue de desconhecidos e à espera da minha bala que pusesse um fim aos meus meros 22 anos, visualizei todos os rostos que alguma vez amei e segredei 'amo-te' uma e outra vez. Desejava que aqueles que amo soubessem o quanto, desejava que soubessem que apesar do que me aconteceu, continuassem a acreditar no lado bom das pessoas, que não deixassem esses homens ganhar.
Ontem à noite, a vida de muitos foram modificadas para sempre e cabe-nos a nós sermos melhores pessoas, viver a vida que as vítimas inocentes desta tragédia sonhavam mas que infelizmente, agora nunca poderão cumprir. Descansem em paz, anjos. Vocês nunca serão esquecidos.”
Esperança no lado bom das pessoas
Também acredito no lado bom das pessoas, na capacidade que temos para melhorar. Não há nada que desculpe estes actos de maldade pura. Por isso acredito que tem de ser o bem a vencer o mal (e rapidamente, pois a maldade já fez demasiadas vítimas).
De qualquer modo, fiquei igualmente comovida com a forma como este pai explicou os trágicos acontecimentos ao seu filho pequeno.
Admiro imenso este pai, porque é assim que temos de pensar. E apesar de não acreditar que há esperança para todas as pessoas, ainda tenho esperança na humanidade!
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Dezenas de pessoas foram baleadas bem na minha frente. Poças de sangue enchiam o chão. O choro de homens crescidos que seguravam o corpo morto, baleado, das suas namoradas. Futuros demolidos, famílias de coração partido. Num instante.
Chocada e sozinha, fingi estar morta por mais de uma hora, deitada entre pessoas que podiam ver os seus entes queridos imóveis. Sustinha a respiração, tentava não me mexer, não chorar – não demonstrar a esses homens o medo que eles ansiavam ver.
Tive uma sorte incrível por sobreviver. Mas muitos não a tiveram. As pessoas que estavam lá pelas mesmas razões que eu – ter uma noite de Sexta-feira de divertimento - eram inocentes. Este mundo é cruel. E actos como estes sublinham a depravação dos seres humanos e as imagens daqueles homens a circular entre nós como abutres vão assombrar-me para o resto da vida. A forma como apontaram meticulosamente para as pessoas sem qualquer consideração pela vida humana. Não parecia real.
Eu esperava que a qualquer momento alguém me dissesse que era só um pesadelo. Mas ser uma sobrevivente deste horror deixa-me capaz de lançar luz sobre os heróis.
O homem que me tranquilizou e arriscou a sua vida para tentar tapar-me a cabeça enquanto eu chorava, o casal cujas últimas palavras de amor me fizeram acreditar no bem que há no mundo, o polícia que conseguiu salvar centenas de pessoas, os completos desconhecidos que me levantaram da estrada e consolaram-me durante os 45 minutos em que acreditei que o rapaz que eu amava estava morto, o homem ferido que confundi com ele e quando percebi que não era Amaury, abraçou-me e disse-me que ia ficar tudo bem, apesar de também ele estar sozinho e assustado, a mulher que abriu as suas portas aos sobreviventes, o amigo que me ofereceu abrigo e foi comprar-me roupa para eu não ter de usar esta blusa ensanguentada, todos os que enviaram mensagens de apoio – vocês fazem-me acreditar que este mundo tem o potencial para ser melhor, para nunca mais deixar que isto aconteça outra vez. Mas para a maioria das 80 pessoas que foram assassinadas naquele evento, que não tiveram tanta sorte, que não puderam acordar hoje e por toda a dor que os seus familiares e amigos atravessam, eu sinto muito.
Sinto-me privilegiada por ter sido uma das últimas respirações. E acreditei verdadeiramente que me iria juntar aos que não sobreviveram. Mas garanto que os seus últimos pensamentos não foram para os animais que causaram tudo isto. Elas estavam a pensar nas pessoas que amavam.
Enquanto estive deitada no sangue de desconhecidos e à espera da minha bala que pusesse um fim aos meus meros 22 anos, visualizei todos os rostos que alguma vez amei e segredei 'amo-te' uma e outra vez. Desejava que aqueles que amo soubessem o quanto, desejava que soubessem que apesar do que me aconteceu, continuassem a acreditar no lado bom das pessoas, que não deixassem esses homens ganhar.
Ontem à noite, a vida de muitos foram modificadas para sempre e cabe-nos a nós sermos melhores pessoas, viver a vida que as vítimas inocentes desta tragédia sonhavam mas que infelizmente, agora nunca poderão cumprir. Descansem em paz, anjos. Vocês nunca serão esquecidos.”
Esperança no lado bom das pessoas
Também acredito no lado bom das pessoas, na capacidade que temos para melhorar. Não há nada que desculpe estes actos de maldade pura. Por isso acredito que tem de ser o bem a vencer o mal (e rapidamente, pois a maldade já fez demasiadas vítimas).
De qualquer modo, fiquei igualmente comovida com a forma como este pai explicou os trágicos acontecimentos ao seu filho pequeno.
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Sabe mais sobre o meu dia-a-dia:
Martin Luther King era um "Deus"
ResponderEliminarMark Margo
www.markmargo.net (site cor de rosa de celebridades e cinema)
E um relato na primeira pessoa que nos deixa a pensar... Num momento para o outro podemos simplesmente desaparecer deste mundo. Por isso, não devemos batalhar pela nossa felicidade?
ResponderEliminarO vídeo e muito lindo, o pai ao falar das flores lembrou me logo da revolução dos cravos no 25 de abril.
como é possível, depois de presenciar tal tragédia,haver pessoas tão bonitas? Nada é por acaso!!!!
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