domingo, 25 de novembro de 2012

O senhor do eterno sorriso

Eis que chega ao fim uma semana meio atribulada. Muito, muito trabalho. Eleição de nova direcção (estou satisfeita com esta parte) e apresentação de orçamento, para além da já habitual correria. Também tive o aniversário do maridinho, que é um querido e que mereceu uma surpresa minha e da Letícia.

Aparte disto, o falecimento de um dos meus utentes deixou-me particularmente triste. Não esperava. Parecia que vendia saúde. Mas um AVC tirou-lhe a vida.

Uma das situações mais difíceis para quem trabalha em lares é ter de lidar com a morte com alguma frequência. Mas confesso, a do Sr. J. custou-me particularmente.

O Sr. J. era uma pessoa maravilhosa, acho que posso dizer que era genuinamente feliz. Não que tivesse tido uma vida fácil, isenta de problemas. Era a sua forma de ver o mundo que me encantava e, por isso, nunca o esquecerei.

Sabem porque acho que era feliz? Vejam só a sua forma de estar na vida:
- Tinha uma dedicação enorme à família (se pudesse todos os dias ia à casa da irmã, também nossa utente). Falava com carinho nos filhos. Era muito comunicativo, adorava conversar com os amigos. O que mais detestava era passar as noites sozinho, uma vez que já estava viúvo;
- Apesar das dificuldades que teve ao longo da vida, concentrava-se sempre no que tinha de bom. Até o futuro não o preocupava muito. Era sem dúvida optimista;
- Era muito activo. Adorava estar no meio da Natureza, trabalhar na sua hortinha. Não havia passeio em que não participasse. E estava sempre pronto para as aulas de ginástica na Instituição;
- Quando havia algum problema, acalmava sempre os ânimos. Parece que reagia a tudo com uma calma... (quem me dera ser assim!). Motivava também os outros, quando estavam mais desanimados. Era impressionante a sua força;
- Tinha um sentido de humor muito apurado. A última conversa que tive com ele, foi ele a contar-me uma piada;
- E havia aquele eterno sorriso, a sua educação e simpatia. Mesmo que estivéssemos tristes, não podíamos deixar de sorrir ao passar por ele. O seu espírito positivo, contagiava-nos com boas emoções.

Fui à capela, profundamente triste. Perguntava-me porquê ele, logo ele que era tão boa pessoa. Quando de repente reparámos (e isto pode soar um pouco mórbido), mesmo sem vida, o Sr. J. tinha um sorriso nos lábios. Nunca tinha visto algo parecido. Não foi impressão minha. Cada funcionária que passava na capela, me vinha dizer "Já reparou que o Sr. J. estava a sorrir?". Talvez o gesto lhe estivesse tão entranhado, que nem no fim da vida deixou de o fazer. Ficou com o seu eterno sorriso.

Passaram alguns dias e agora, mais conformada, penso que talvez tenha sido o melhor para ele. O Sr. J. iria ficar com sequelas e seria uma injustiça vê-lo a definhar aos poucos, numa cama. Para quem tem fé, quem sabe se não está algures a olhar para nós... sorridente.

Até sempre Sr. J. Jamais o esquecerei!...

5 comentários:

  1. Olá Mafalda.
    Sou uma silenciosa visitante do teu blog.
    Obrigada pelas tuas lindíssimas e positivas mensagens e em especial a de hoje que me tocou particularmente.
    Um forte abraço do Porto.
    SAO

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  2. Mafalda, descobri seu Blog há alguns dias e estou amando-o. Em janeiro estarei na 'terrinha', mas desde já vou sentindo as boas vibrações daí pelas suas palavras e textos tão gratificantes. Obrigada pelo o que compartilha conosco.

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  3. Amiga querida, sei bem o que se passa em seu coração!
    belíssima homenagem
    bj Sandra
    http://projetandopessoas.blogspot.com.br//

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  4. Um exemplo de vida que inspira!
    Espero que esta semana seja bem melhor minha querida!

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  5. :(

    "Há momentos inesqueciveis, coisas inexplicaveis e pessoas incompatíveis..."

    Abraço Mafalda

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