quarta-feira, 27 de junho de 2018

Uma professora inspiradora


Em tempos, um conhecido meu também «viciado» em livros contou-me que esse seu «vício» foi inspirado por uma professora. Esse senhor, hoje nos seus 70 e poucos anos, disse-me que no início do ensino primário, tinha um professor muito abusivo. Batia nos alunos quase com um prazer perverso. Os alunos, por sua vez, tinham um medo terrível do professor e o seu gosto pela aprendizagem era... nenhum. 

Entretanto, o professor reformou-se e chegou à escola uma professora novinha, mas super-inspiradora. Com um tom entusiasmante, contagiava os alunos com o desejo de aprenderem mais e mais. Foi essa professora que o despertou para o prazer da leitura, que mantém até hoje.

A verdade é que eu também tive uma professora assim. Bem mais tarde, já no ensino superior. Ela fez uma revolução no meu gosto pela História, que jamais imaginaria que acontecesse.

Tenho de ser sincera, eu sempre detestei História. As aulas pareciam-me enfadonhas ao ponto de me darem sono. Os professores no seu tom monocórdico debitavam matéria, cumprindo o programa escolar estabelecido. Mas esta professora era diferente, muito diferente.

Ela explicava a matéria com paixão, parecendo uma verdadeira contadora de histórias. Tirava-nos da sala de aula e levava-nos para locais históricos. Depois mostrava-nos coisas como o porquê de em dada época os pintores incluírem caveiras nos seus quadros, ou porque a arquitectura de uma igreja tinha sido feito de certa maneira, ou a história de vida de um senhor que viveu no que é hoje uma casa-museu. Sei que após estas visitas ela despertava em mim o desejo de querer saber mais e mais.

Entretanto, também nos deu como trabalho, uma pesquisa por conta própria. Teríamos de escolher um monumento, uma figura histórica, uma tradição... relacionada com a nossa terra de origem (como estávamos no ensino superior, haviam alunos um pouco de todo o país) e teríamos de apresentar esse trabalho em sala de aula. Posso dizer que esse trabalho, foi das coisas mais entusiasmantes que já fiz.

No meu caso, escolhi a igreja mais antiga da cidade. Jamais imaginaria que um monumento aparentemente tão simples, tivesse tantas histórias para contar. Havia sido um templo romano entretanto transformado em mesquita muçulmana, igreja católica, panteão e hoje museu. Foi entusiasmante conseguir identificar um santo pelos seus símbolos; ou olhar para a pedra que serviu de apoio ao D. João I para montar a cavalo  e daí partir rumo à Batalha de Aljubarrota; estar junto da pia onde foram baptizados príncipes; ou descobrir túmulos extremamente trabalhados (semelhantes aos do Mosteiro da Batalha). Descobri factos históricos absolutamente interessantes, que antes me passavam ao lado. 

Depois disso, ganhei coragem e abri pela primeira vez de forma voluntária um livro de História - que li com prazer. A esse, seguiram-se muitos outros. Finalmente, a matéria que achava enfadonha tornou-se apaixonante.

Entretanto o curso acabou e nunca mais soube da professora. Pesquisei na Internet e, fiquei absolutamente consternada por saber que ela havia falecido de cancro, apenas 2 anos após eu ter concluído o curso. Fiquei igualmente triste por nunca lhe ter dito o quão inspiradora ela foi e o efeito que teve na minha vida.

Dela li que doou a sua colecção de livros (cerca de 5000!!!), à Biblioteca da cidade. Li ainda as palavras do marido que traduzem exactamente a visão que tenho dela: “A sua grande paixão foi, sem dúvida, motivar, fazer acordar a juventude e formá-la para o futuro. Para ela um professor não existia apenas dentro da sala de aula. Por isso, ela foi amiga, companheira, ouvinte dos seus alunos. Tudo o que fez, fê-lo sempre com paixão. Era verdadeiramente uma apaixonada pela vida.”

Hoje sinto uma gratidão enorme por esta professora. Mesmo que já não esteja presente, deixou a sua marca entre nós. Um muito obrigada por isso!

Ah! O seu nome era Eulália Teigas Marques.

Foto: andrs-off
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1 comentário:

  1. Que homenagem tão bonita Mafalda :)
    Certamente a sua professora está agradecida :)
    Beijinhos

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